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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

A cada 11 minutos uma mulher no Brasil é estuprada. Uma em cada três mulheres no mundo foi ou vai ser abusada sexualmente. Todo ano, em média, 300 crianças são atendidas no Hospital Pequeno Príncipe vítimas de abuso sexual. No dia 3 de novembro de 2008, a menina Rachel Maria Lobo de Oliveira Genofre, com apenas 9 anos, é vista pela última vez; raptada em via pública, seu corpo é encontrado em uma mala na Rodoviária de Curitiba – ela foi estuprada e morta. Até hoje o caso não foi solucionado. A mãe de Rachel buscou a Justiça para que o governo criasse políticas públicas de forma a proteger as crianças e coibir crimes semelhantes, mas a Justiça negou esse pedido.

Negar que exista uma cultura do estupro é negar a existência desses crimes. É desrespeitar também a dor e o sofrimento dessas mulheres e meninas. É ignorar o luto dos familiares que perderam suas filhas, irmãs, mães e esposas vítimas dessa barbárie. É ignorar a necessidade de políticas públicas que protejam as mulheres e meninas, que atuem preventivamente, que garantam para nós espaços seguros, que possamos viver com respeito e livres de violência.

Em vez da relativização da violência, poderíamos reunir esforços a fim de combater essa realidade

Uma invenção feminista

As feministas simplesmente colocam todos os homens no mesmo saco dos criminosos e violentadores e acham que dizer isso é algo absolutamente normal

Leia o artigo de Fabio Blanco, advogado, articulista e blogueiro

Nas palavras da professora do IFPR Mabelle Bandoli, “cultura é um termo com inúmeros significados. Chamamos de cultura as atividades humanas ligadas às artes, à comunicação e transmissão de conhecimento; chamamos de cultura o conjunto de crenças e hábitos de um povo, sua identidade e características específicas, coletivamente compartilhadas e construídas ao longo da história; chamamos de cultura tudo aquilo que se produz de forma perene e sistemática, tudo aquilo que cultivamos como espécie humana. Cultura, diz-se em ciências sociais, é aquilo que nos humaniza, nos torna especiais em relação aos demais animais que habitam este planeta. Cultura é aquilo que, ao produzirmos, nos produz. É o que faz do mundo inteiro o nosso habitat, é o que nos liga ao mundo e uns aos outros. É a essência da nossa condição humana. Como é possível, então, que aquilo que nos constitui como seres humanos se associe à brutalidade do estupro – que, como dissemos acima, tem como objetivo desumanizar a vítima? Como é que nos tornamos capazes de recriar, ao longo da nossa história, um paradoxo tão cruel?”

Para responder a essas questões é necessário assumir que já falhamos quando admitimos que a violência imposta às mulheres é passível de polaridade e questionamento. Na medida em que se relativiza ou se naturaliza a violência, sob o amparo de um espaço democrático, aponta-se para o quão crítica é a realidade em que nós, mulheres, estamos inseridas. Nossos corpos e a violência a que estamos submetidas são relativizáveis.

Em vez da relativização da violência, poderíamos reunir esforços a fim de combater essa realidade. Somar, juntamente com os pais da menina Rachel, para que o Estado construa políticas públicas de enfrentamento à violência e de proteção às mulheres e meninas. Defender a realização de novos concursos, capacitação e construção de equipamentos que garantam acolhimento e recepção das denuncias de violência contra a mulher. Lutar por uma educação plural, não sexista, que debata gênero e enfrentamento à violência. É pela vida das mulheres!

Xênia Mello é advogada e militante feminista periférica.
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