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Imagem mostra sala de aula com distanciamento entre carteiras e frasco de álcool para higiene das mãos.
Imagem ilustrativa. Sugestão de sala de aula com distanciamento entre carteiras e frasco de álcool para higiene das mãos.| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

No dia 20/08 a Gazeta do Povo, na sua versão on line, publicou um artigo confuso, que misturou a política sindical com políticas públicas, políticas partidárias e a EAD nas universidades públicas federais. Claro, é um texto meramente opinativo, pouco articulado com a realidade, constrangedoramente curto.

A autora busca em sua memória uma reivindicação banal de um Centro Acadêmico e sem a necessária noção de escala a confunde com o complexo e belo tecido de uma das maiores universidades da América Latina. Para que perder tempo com argumentos rasos proferidos por quem, no máximo, consultou sete ou oito páginas eletrônicas do Google? O fazemos, no entanto, para dar conforto a quem vem lutando cotidianamente para que o ensino superior do país possa abrigar, com competência, a quem quer aprender e disseminar conhecimento.

Não obstante o preconceito político, o texto resvala na questão do EAD,”. Mesmo assim, de forma confusa acusa o sindicato nacional da categoria dos professores (Associação Nacional Docente de Ensino Superior - ANDES) de barrar o EAD sem justificativa.

Insinua que um professor de ensino superior só trabalha quando está ministrando aula, o que equivaleria dizer que jogadores de futebol só trabalham nos noventa minutos esporádicos em que disputam uma partida no gramado, ou que os militares só trabalham quando trocam tiros em uma guerra. Quanto aos professores, há uma grande lista de tarefas: ler e estudar sobre aquilo que professa, principalmente em bibliografias internacionais; realizar pesquisas, muitas delas em campo; orientar seus alunos de graduação e de pós graduação; debater constantemente com outros grupos de pesquisa; redigir artigos científicos para revistas especializadas ou livros autorais; reunir-se com seus pares para gerenciar e fomentar seu espaço acadêmico;; organizar colóquios, seminários ou eventos de extensão. Além disso, os professores podem acumular algumas outras tarefas: chefiar seu departamento como chefe ou coordenador seu curso; administrar instâncias superiores da universidade (setores, pró-reitorias etc) ou administrar um laboratório.

Quanto ao EAD, tratado de forma leviana no texto ao menosprezar essa modalidade comparando-a àqueles antigos “cursos por correspondência”, a discussão levada a cabo pelo ANDES e por suas Seções Sindicais, como a APUFPR, tem sido profunda e séria. Alguém de precário conhecimento em Educação e em práticas pedagógicas pode, como dá a entender o texto, acreditar que o EAD e, mesmo as atividades remotas, poderiam substituir a formação intelectual construída em salas de aula dentro da Universidade. É fato que a tecnologia virtual permite que algumas das tarefas elencadas acima possam ser cumpridas a contento a contento de forma online com tecnologia de reuniões virtuais, lives, etc. Por outro lado, também é real que as coisas não são tranquilas com a tarefa de ministrar aulas – quem tem uma criança em casa sabe disso. Mas, quem dá complexas aulas de laboratório de química ou de física, quem trata com os materiais da engenharia, quem faz aula prática de educação física, quem faz aula de campo com os alunos sabe da impossibilidade de fazê-lo em ambiente virtual. Mesmo as aulas teóricas se ressentem da qualidade de uma aula presencial na qual a compreensão do argumento está estampada na fisionomia dos presentes e o aproveitamento vem das discussões proferidas em grupo.

E por qual motivo não estamos ministrando aulas presenciais? Por conta de uma mal-traçada mistificação, percebe-se que o texto fantasia de forma exagerada a atuação de “sindicatos”, “partidos”, “ideologias de esquerda”?

O motivo é simples: existe um vírus que põe a vida dos nossos alunos e a nossa em risco e nós jamais nos sentiríamos confortáveis em colocar em risco a vida daqueles que temos que cuidar e educar (a nós mesmos e aos nossos alunos). Jamais assumiríamos a responsabilidade de expor nossos alunos a esse risco.

É fato que a tecnologia virtual aumentou muito a capacidade de trabalho do professor em outros itens da sua lista de tarefas, e nossos colegas têm trabalhado muito, alguns inclusive bem mais que faziam antes deste preocupante tempo de pandemia. Algo que, no entanto, não foge à percepção de nenhum professor: as atividades remotas ou EAD não resolvem a tarefa fundamental da missão de formar os estudantes através de aulas presenciais de qualidade, Repare o leitor que diferentes cursos, como música, matemática, informática, geologia, medicina, odontologia, educação física ou bioquímica, por exemplo, entre dezenas de outros possuem dinâmicas pedagógicas próprias, diferentes maneiras de ministrar aulas que lhes são próprias. Os professores continuam trabalhando muito embora, neste momento, não ministrem aulas presenciais na maioria das matérias, que as necessitam sem possibilidade de substituição. Portanto sublinhemos: nós professores continuamos trabalhando o mesmo tanto ou mais.

Por que então não estamos ministrando aulas presenciais? Por conta da história fantasiosa de “sindicatos”, “partidos”, “ideologias de esquerda”?

E por que, então, não ministramos definitivamente aulas virtuais? Pelo mesmo motivo que não se substitui uma partida de futebol por um jogo de videogame, ou uma guerra por jogo de computador, para voltar aos militares e aos jogadores de futebol. Em resumo: prezamos a qualidade da formação dos nossos alunos.

Assim, sem partidos, sem siglas, sem sindicatos, sem mitologia e cortina de fumaça é possível compreender, inclusive com mais urbanidade, que a posição dos professores da UFPR esteja fundada em dois princípios básicos: respeito ao valor da vida das pessoas, respeito à qualidade da formação daquele ou daquele, que entregamos para a sociedade.

APUFPR-ssind, presidente Paulo Vieira Neto e Eduardo Salamuni.

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