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O clima quente, predominante na disputa do segundo turno das eleições para o governo do Paraná, exigiria o exercício de lançamento de elementos de reflexão e de alternativas de ação a respeito de uma área nevrálgica à preparação criteriosa da capacidade de crescimento potencial da economia estadual: a infra-estrutura física.

Reconhecidamente, essa variável representa um dos principais tópicos de investimento, antecedente do crescimento sustentado. Tanto é assim que, a partir da segunda metade da década de 1960, o estado do Paraná ganhou notoriedade no cenário nacional, por meio da construção de uma rede de capital social básico, moderna e competitiva, capaz de assegurar, tanto às tradicionais quanto às novas cadeias do parque produtivo operante no território das araucárias, condições de plena inserção em fases ascendentes registradas pelo país. Dentre elas sobressaíram o extraordinário crescimento econômico do período compreendido entre 1968 e 1973, conhecido como o Milagre, e a excepcional elevação da taxa de investimento, constatada durante a implementação do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) do governo Geisel entre 1975 e 1978.

Mais precisamente, desde os primórdios dos anos 1960, com recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), gerenciados pela Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar), criada em 1962 e transformada em Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep), em 1968, o estado logrou êxito na montagem de uma malha integrada de rodovias, na instalação de ferrovias, no estabelecimento de uma base de armazenagem pública de produtos de origem rural, na modernização das telecomunicações e na adequação do Porto de Paranaguá.

Houve também o avanço da estrutura de geração e distribuição de energia elétrica, iniciado ainda no governo Bento Munhoz da Rocha Netto, com a criação da Copel, Companhia Paranaense de Energia Elétrica (hoje apenas Companhia Paranaense de Energia), através do Decreto n.° 14.947 de 26 de outubro de 1954. E, no caso das rodovias, a integração do Norte com o Sul paranaense, promovida pela Rodovia do Café nos anos 1960, foi magnificada com as obras de edificação das estradas estaduais alimentadoras, no governo Jayme Canet entre 1975 e 1979.

Os atributos infra-estruturais constituíram enormes diferenciais nos processos de negociação envolvendo a conquista de empreendimentos de grande porte, públicos e privados, para o Paraná, durante o decênio dos 1970, e, em menor medida dos 1980, devido à conjuntura de crise que assolou o país na chamada década perdida. Em outros termos, a infra-estrutura representou elemento estratégico no reforço das vantagens comparativas naturais desfrutadas pelo Paraná para a atração de apreciáveis projetos e vultosos montantes de recursos, necessários à transformação de um panorama produtivo dominado por fazendas de café e por um conjunto de serrarias, do final dos anos 1950, em uma poderosa estrutura industrial, já no segundo qüinqüênio da década de 1970.

Não seria exagero admitir terem sido o estoque e os fluxos infra-estruturais fatores essenciais à modernização agrícola e industrial, entre 1968 e 1974, ao estabelecimento de um pólo cimenteiro na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), no começo dos anos 1970, à consolidação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), no intervalo 1975-1980, à ampliação do parque fabricante de papel e celulose depois de 1974, e ao sucesso nos acertos políticos para a implantação da refinaria de petróleo da Petrobrás, em Araucária, e da usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu. Frise-se que esses dois últimos itens contribuíram, de forma relevante, para a multiplicação do grupo de externalidades econômicas pró-Paraná.

Mesmo durante a crise da década de 1980, sintetizada na falência do Estado, e na drástica compressão de seu poder de inversão, e a travessia para a globalização da primeira parte dos anos 1990, o Paraná tratou de não descuidar da competitividade do aparato infra-estrutural, concentrando esforços na recuperação e no aprimoramento das rodovias estaduais e em incursões no segmento ferroviário, durante os governos Alvaro Dias e Roberto Requião, com o empreendimento da Ferroeste, e na busca da condição superavitária na oferta de energia de origem hidrelétrica, com a construção das usinas de Segredo (Dias) e Caxias (Requião).

Por certo, os trunfos infra-estruturais estiveram por trás da expressiva presença do Paraná nas preferências locacionais manifestadas por parcela dos investidores privados, hospedados no Brasil depois da estabilização inflacionária promovida pelo plano real. No entanto, convém não perder de vista a flagrante deterioração do modelo infra-estrutural prevalecente por décadas, resultado da opção política, feita nos anos 1990, pela transferência da gestão e operação à iniciativa privada, de forma fragmentada e em precárias condições de regulação, incapazes de sinalizar retornos confiáveis às iniciativas de elevado risco, em face das substanciais cifras de investimentos requeridas e do prolongado tempo de maturação dos projetos.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do curso de Ciências Econômicas da UniFAE – Centro Universitário – FAE Business School.

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