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Primeiro os mais velhos: mais autonomia e continência
| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

Nunca pensei que chegaria esse dia, mas chegou! Um consenso global sobre o valor da escola para as sociedades, independentemente do seu PIB. Há relatórios contundentes dos prejuízos causados pelo fechamento das escolas, para além das questões de aprendizagem. Somos seres sociais por excelência e dependemos das interações extrafamiliares para aumentar as possibilidades de êxito na experiência humana. A escola, portanto, é um espaço privilegiado de “gentificação”: da construção dos contornos que nos fazem mais gente, mais responsáveis por aquilo que vamos nos tornando ao longo da vida.

Não faltam razões para que o tema de retorno às aulas presenciais seja uma pauta de destaque. Além do dilema de quando retornar, há outra questão relevante: quando a escola reabrir, devemos iniciar pelos estudantes menores ou maiores? Entendemos que o retorno das atividades presenciais será escalonado. Diante de uma realidade tão diversa, só conseguiremos chegar a um denominador comum orientados pela observação, análise e bom senso. Se, por um lado, as crianças menores precisam mais dos adultos para desenvolverem as atividades propostas pela escola e têm mais dificuldade em permanecerem concentradas diante de uma tela, por outro lado, engajar alunos maiores ao trabalho escolar diante de tantas possibilidades de distração que a internet oferece – com pop-up de interesse brotando na tela a cada mexida de mouse – é uma aventura desafiadora para os professores.

Se formos observar os protocolos, é difícil acreditar que conseguiremos manter crianças pequenas com máscara e distantes umas das outras – isso só para pensar nos itens mais simples. Na prática, alunos trocam pertences como lápis, canetas, borrachas; partilham lanche; com uma bola de meia iniciam um campeonato de futebol no pátio; trocam raquetes de pingue-pongue; se abraçam quando estão com saudades. Enfim, no espaço escolar se identifica uma das principais características humanas: a interdependência, ou seja, a necessidade da presença do outro na vida de cada um.

Mas se há algo que a escola faz é o que não é fácil! O que é fácil qualquer um faz. Somos movidos pelo desafio de fazer a diferença na vida dos estudantes. Por esse motivo, mesmo sendo uma atividade muito difícil, tão logo nos seja permitido queremos voltar. E, a cada dia que estivermos abertos, aprenderemos novos procedimentos, porque nossos alunos ensinam tanto quanto aprendem. Nesse contexto, creio que iniciar com os estudantes maiores, que têm mais autonomia e continência, venha a ser a decisão mais sensata e, aos poucos, ampliar o retorno para os demais segmentos da escola.

Abrindo um pouco mais o espectro de escolhas, talvez a idade não fosse o fator mais relevante para uma escola. Uma possibilidade a ser considerada seria a de trazer para mais perto dos professores os seus alunos que apresentaram mais dificuldades no formato remoto ou mesmo aqueles cujos responsáveis estejam em atividades essenciais, com pouco acompanhamento em casa. Colocaríamos na “terapia intensiva” aqueles que mais precisam de acolhimento, monitoramento e intervenção pedagógica, reiterando o que é notável (digno de nota!): o esforço dos professores para impedir que os seus alunos renunciem ao direito de aprender.

Acedriana Vicente Vogel é diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.

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