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Você, paciente leitor, é capaz de dizer quais são as idéias e projetos de longo prazo dos atuais candidatos às eleições de outubro? Porque até agora, o que se se viu foi um rol de promessas genéricas e a reafirmação de promessas assistencialistas imediatistas de que os mais de 40 milhões de pessoas que recebem algum tipo de renda ou doação dos governos, tanto o federal como o estadual, receberão mais ainda no futuro.

Mas será que é esse tipo de futuro que se quer para o país? Será que as transferências unilaterais promovidas pelos governos, doando dinheiro, luz, água ou tudo mais às pessoas são sustentáveis? Será que quando o dinheiro para esse tipo de bondade escassear, as pessoas beneficiadas terão adquirido ou recuperado a condição de viver por conta própria? Ou estamos simplesmente mantendo uma situação artificial que deixa seus beneficiários felizes, mas que não constrói uma base estável de riqueza permanente. O assistencialismo não nasceu ontem, e a história do mundo está cheia de exemplos de políticas assistenciais que não se sustentaram quando o dinheiro acabou.

É claro que ninguém se autodeclara assistencialista, preferindo falar de "redistribuição de renda". Mas que redistribuição é essa que tira de uns pobres para dar para outros? Explico: as "bolsas" de diferentes naturezas são transferências governamentais que saem dos cofres públicos, os quais são alimentados pela multidão de brasileiros – a maioria pobres – que a cada ano, trabalha 137 dias apenas para pagar o que deve aos governos. Ora, se se quiser realmente redistribuir a riqueza é fácil: basta reduzir a carga tributária média de 37% do PIB como é hoje para os 30% que era alguns anos atrás para automaticamente devolver à população mais de R$ 170 bilhões por ano, 20 vezes mais do que o governo federal irá gastar com suas bolsas de vários tipos em 2006.

Tão simples, mas por que não o fazem? Por uma razão singela: as políticas de assistência que proliferam em nosso país estão lubrificando a mais formidável máquina clientelista de que já se teve notícia, cuja eficácia, aliás, as pesquisas eleitorais estão demonstrando. Essa é a razão pura e simples para essa forma peculiar de opção preferencial pelos pobres que parece empolgar os candidatos. Oito bilhões de reais por ano que são gastos com bondades públicas promoveriam no país a revolução educacional, científica e tecnológica que alçariam o Brasil a um novo patamar de riqueza e de desenvolvimento; 8 bilhões de reais por ano fariam da medicina popular brasileira um sistema de padrão de primeiro mundo; 8 bilhões de reais construiriam 400 mil casas populares por ano com toda a infra-estrutura sanitária; reformariam a rede viária, modernizariam os portos.

Falta nos nossos candidatos a perspectiva de estadistas, capazes de olhar mais longe. Como disse Maquiavel na dedicatória d’O Príncipe a Lourenço de Médicis: "Da mesma maneira que aqueles que desenham os contornos de um país postam-se na planície para apreender a natureza dos montes, e sobem aos montes para apreender a das planícies, para bem aquilatar a natureza dos povos é preciso ser príncipe, e para aquilatar a dos príncipes, é preciso ser povo". Com essa metáfora, Maquiavel estabeleceu a imperiosidade de se adotar uma posição que permita perspectiva no entendimento do povo e de suas necessidades.

Traduzida para os tempos modernos da democracia representativa, a dedicatória continua atualíssima. Só entenderá verdadeiramente os contornos da nação e do Estado quem se colocar em um ponto de observação mais alto que lhes permita ver mais longe e ver mais coisas do que aquilo que lhe é imediato. Juscelino tinha essa capacidade, expressa numa das jóias da oratória política brasileira: "Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará no cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã de meu país e antevejo esta alvorada, com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino". Ernesto Geisel demonstrou ter essa noção de perspectiva quando lançou as bases da modernização industrial brasileira nos anos 70 com a siderurgia, a indústria de bens de capital e a petroquímica modernas que formam a base de nossa estrutura econômica.

Mas o que é mais agradável aos olhos da população e mais útil aos políticos? Uma bolsa de 50 reais em dinheiro vivo sem muitas perguntas nem exigências, ou uma aposta remota em um futuro mais brilhante e mais promissor para as gerações que virão?

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE Business School.

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