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O STF decidiu recentemente que pais não podem tirar seus filhos da escola para ensinar os conteúdos escolares em casa. A ação sobre o assunto chegou ao STF em 2015, na forma de um recurso de uma estudante que queria ser educada pelos pais em casa. Esse caso acaba por estimular discussões que versam sobre o papel das famílias na educação escolar dos seus filhos. Sem entrar no mérito da ação analisada pelo STF – se as crianças podem ou não receber educação formal exclusivamente por seus pais –, creio ser um bom momento para discutir hábitos e visões das famílias brasileiras quando pensamos em aprendizagem escolar.

Esse tema não é novo. Em 1961, os pesquisadores ingleses Jean Floud e Albert Halsey utilizaram a expressão “famílias educógenas” como aquelas que seriam mais capazes de incitar os filhos ao êxito escolar por meio de suas atitudes, hábitos e estilos de vida. Apesar de sabermos que há uma forte relação entre o nível socioeconômico das famílias e seu perfil educógeno, os resultados do último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) nos mostram que tanto em Matemática quanto em Ciências a média dos alunos da rede privada brasileira está abaixo da média dos alunos das redes pública e privada dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), composta por países considerados desenvolvidos.

Por isso, perguntamos: será que especificamente as famílias de classe média-alta brasileiras estão, de fato, incentivando seus filhos a obterem excelência na aprendizagem?

A pergunta básica para se saber se uma escola é boa ou não é conhecer o quanto os alunos efetivamente aprendem

Recentemente, em conversa com amigos, ouvi um comentário que me chamou a atenção. A mãe, uma médica, falava de forma bastante entusiasmada sobre o quanto estava feliz por ter trocado de escola seus filhos de 12 e 15 anos. Interessada, perguntei o porquê da satisfação e ela relatou alguns motivos. Primeiro, na antiga escola as noites em casa eram verdadeiros momentos de tortura, uma vez que os filhos tinham de fazer lição e não queriam. Na nova escola, dizia ela, havia pouquíssima lição a ser feita em casa e, assim, o alívio foi grande para a família. Comentou também que era comum eles ficarem em recuperação, pois a escola antiga oferecia momentos de reforço continuamente, ou seja, a cada assunto não aprendido de forma satisfatória, o aluno deveria ir ao contraturno aprender. Agora, na escola atual, eles “nunca estão em recuperação e, além disso, as notas de ambos melhoraram!” Para finalizar, ela contou que os filhos também estão adorando, pois o prédio é moderno e há muitos eventos dentro e fora da escola.

Não podemos generalizar esse depoimento, mas vale pensarmos se não conhecemos outras famílias que pensam da mesma forma. Ou seja, consideram que “escola boa e moderna” é aquela em que os alunos se divertem muito, que tem vários equipamentos eletrônicos e uma infraestrutura maravilhosa. Não que esses não sejam pontos relevantes, mas sem dúvida não são os que respondem de forma direta pela aprendizagem dos alunos.

Leia também: Nossa catástrofe educacional (editorial de 2 de setembro de 2018)

Nossas convicções: Ética e a vocação para a excelência

A pergunta básica para se saber se uma escola é boa ou não é conhecer o quanto os alunos efetivamente aprendem. Os indicadores educacionais recentes nos alertam exatamente para isso: nossos alunos não estão aprendendo de forma satisfatória. Por exemplo: no último Pisa, 70,25% dos alunos brasileiros estão abaixo do nível básico de proficiência em Matemática, o que fez com que o Brasil se posicionasse em 66.º lugar no ranking entre 70 países participantes. E isso considerando as escolas públicas e as particulares.

Hoje, qualquer pessoa pode acessar na internet a Base Nacional Comum Curricular do ensino fundamental e ver o que seu filho ou filha deveria estar aprendendo no respectivo ano escolar. A partir disso, é possível acompanhar e estimular essas aprendizagens. Em verdade, temos de estabelecer e valorizar hábitos que contribuam para o desenvolvimento de nossos filhos, tais como estudo das disciplinas, conversas e debates sobre assuntos relevantes, além, é claro, de leitura em geral e conhecimento de arte e cultura.

A melhoria educacional que tanto desejamos para o nosso Brasil não depende exclusivamente das políticas públicas. É fundamental, também, que as famílias estimulem e se comprometam com a aprendizagem de seus filhos. Como consequência, os próprios estudantes se esforçarão e aprenderão muito mais. Vale lembrar: estudar nem sempre é somente um ato de prazer. Muitas vezes é preciso esforço e disciplina. E é o futuro da nação que está em jogo. Não tenhamos dúvida disso.

Márcia Teixeira Sebastiani é consultora e doutora em Educação.
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