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Manifestantes reunidos na Avenida Paulista, tradicional palco de protestos de São Paulo: revoltados com a libertação de Lula.
Manifestantes reunidos na Avenida Paulista, tradicional palco de protestos de São Paulo.| Foto: Ari Ferreira/AFP

A cor vermelha tem uma história de associação emblemática à esquerda. Na China e na União Soviética, havia o Exército Vermelho; na Rússia, a Praça Vermelha. A cor é referência tradicional ao regime político adotado nesses países. No Brasil, a estrela vermelha do PT sempre fez parte da composição da identidade do partido. Por um longo período, a esquerda colocou de lado o verde e o amarelo, cores que simbolizam a pátria Brasil, principalmente desde as manifestações pró-impeachment de Dilma, ocorridas a partir de 2014.

Em 2016, no maior ato político da história brasileira, ocorrido em todas as cidades do país, a favor da Lava Jato e contra a então presidente, a população foi às ruas vestida de verde e amarelo. Na Copa de 2018, por exemplo, uma designer criou um modelo vermelho de camisa da seleção, com a foice e o martelo, para os torcedores que não queriam ser confundidos com aqueles que eram por eles chamados de “patos paneleiros”, “coxinhas” e “golpistas”. Descartaram as cores típicas da brasilidade, chegando a usar o preto em protesto, como sinal de luto, nos desfiles do 7 de setembro do ano passado. Essas decisões não tardaram a cobrar seu preço.

À medida que a estrela vermelha do PT foi perdendo suas forças, alguns políticos preferiram suavizar ou trocar a cor por outra na última disputa eleitoral. O peso da decisão de colocar de lado tanto o vermelho quanto o amarelo abriu o precedente de deixar um partido e sua ideologia sem cor. Recente campanha de um jornal da grande mídia tentou, sem sucesso, estimular o uso do amarelo como a cor dos defensores da democracia, usando rostos conhecidos na peça, de personalidades ligadas à esquerda festiva, ao movimento “Lula livre” e o segmento "Fique em casa gourmet".

Nesse embate, entre acusações de sistemática promoção de polarização política, de disputa pelo poder, de apropriação de cor, a direita assegurou um espaço enquanto a esquerda perdia o seu. Por muito tempo, os petistas ostentaram com orgulho sua bandeira vermelha e, por mais tempo ainda, liberais e conservadores se deixaram pautar por eles. Não é à toa que um dos gritos da oposição é exatamente “a nossa bandeira jamais será vermelha”. O verde e o amarelo ressurgiram depois da queda do vermelho, que dominou as gestões anteriores. Após essa ruptura, não é a mera apropriação de uma cor que trará a pacificação ou qualquer solução conciliatória.

Simone Salles é jornalista e mestre em Comunicação Pública e Política.

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