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As manchetes dos jornais apontam que apenas no primeiro dia, mais de 2 mil pessoas, só no Paraná, já haviam se cadastrado numa lista que proíbe as empresas de oferecerem produtos e serviços. Não sou contra a criação da lei, que tem como princípio, o direito individual. Cada um pode querer ser acessado ou não por essas empresas, e assim preservar o seu tempo. Sabemos que nos dias de hoje, o tempo é cada vez mais raro, tornando-se o verdadeiro objeto de luxo. Com tantos afazeres e obrigações, com tantos papéis a desempenhar e tanta variedade de informações, a verdade é que falta tempo para a maior parte das pessoas. Estar em seu horário de descanso ou correndo para cumprir as suas tarefas e ter de atender alguém oferecendo um produto que você não pediu, muitas vezes de forma pouco profissional, pode ser irritante para alguns, ou para muitos.

Como disse, não sou contra a criação da lei, mas contra o tom da notícia, que vem sendo empregado. Expressões do tipo "ninguém aguenta mais o operadores de telemarketing" ou "você agora já pode se livrar do operador do telemarketing" foram ditas, dentre muitas outras na mídia, dando um sentido comemorativo, até de consenso, de que o operador de telemarketing é um mal que precisa ser combatido. São ouvidos representantes do Procon, advogados e outros especialistas em leis, além de vários consumidores, que se sentem vingados. Esque­­ce-se, no entanto, na maior parte, de ouvir o outro lado, princípio básico do bom jornalismo.

A questão é esta. Há um outro lado? Há outros componentes envolvidos? Há outros valores a serem considerados? É relevante saber que o setor de telemarketing emprega diretamen­­te 850 mil pessoas, segundo a ABT (Associação Brasileira de Tele-Serviços)? Que 45% deles são jovens entre 18 e 24 anos, o segmento mais atingido pelo desemprego? Que muitos têm na função o seu primeiro emprego? Que outros, ainda que em minoria, conseguem se fixar e até fazer carreira em suas empresas? Que a partir da experiência em vendas, outros ainda seguem o caminho do empreendedorismo, e parte deles com sucesso?

Se existem tantos vendedores é porque existe quem compre. Algumas empresas têm no canal de telemarketing o seu principal canal de vendas, ou no mínimo, uma parte importante delas. É o caso das assinaturas de jornais e de revistas, de cartão de crédito e até de telefonia. O efeito direto e indireto dos negócios gerados pelo telemarketing é de difícil estimativa, mas certamente não é pequeno.

Muitas destas empresas não investem o suficiente em treinamento e a alta rotatividade dificulta o melhor preparo técnico. É difícil formar uma equipe. É um trabalho árduo. Horas a fio, sentado diante de uma tela, um script, metas, monitoria, supervisão e uma ligação automática para um desconhecido apressado. Aqueles que conseguem vencer merecem realmente aplausos.

Não tenho hábito de fazer compras por telefone, mas não pretendo aderir a tal lista. Não critico quem o faça, mas quem sabe não vale fazer uma ligação para o operador de telemarketing e ouvir o outro lado da questão?

Julio Sampaio é diretor da Resultado Consultoria de Marketing e Vendas.

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