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A crise desencadeada pelo subprime do crédito imobiliário e pelos derivativos financeiros, praticados no sistema bancário norte-americano, se alonga e provoca recessão e desemprego, contamina bancos e as economias da Europa e da Ásia, com efeitos menores também na América Latina, e as cotações nas Bolsas de Valores despencam generalizadamente.

Nos EUA, bancos comerciais e de investimentos, seguradoras e companhias imobiliárias corriam soltos com alavancagem de 30 a 50 vezes. Ademais, a América do Norte apresenta perigoso déficit de 6% do PIB na balança comercial e igual 6% de déficit na execução do orçamento. Tinha que dar no que deu, o estouro da manada previsível e anunciado.

É fantástica a mobilização para debelar a enrascada pelos governos e bancos centrais dos EUA, da União Européia, da Rússia, do Japão, enfim, solidariedade total. Bancos e instituições de empréstimos hipotecários foram estatizados, bancos absorvidos por outros, contas bancárias de depositantes receberam garantias governamentais, bancos centrais baixaram os juros em uníssono.

Alguns trilhões de dólares estão sendo injetados no sistema financeiro, porém daqui para a frente novas regras e controles dificilmente deixarão de ser adotados. Os EUA dominam o padrão monetário mundial com o poder de emitir dólar sem limites, moeda aceita em todo o planeta, mas economistas chineses já sugerem que se crie "moeda diversificada e uma ordem financeira justa que não seja dependente da americana".

Se ainda imperassem as idéias do fundamentalismo vermelho de Mao-Tsé-Tung, a República Popular da China poderia pôr de joelhos o gigante capitalista, porquanto detém reservas próximas a US$ 2 trilhões, boa parte aplicadas em títulos do Tesouro norte-americano. Mas o sossobro do capitalismo não interessa à China de hoje, que colaborará no que for possível para ajudar seu maior parceiro comercial de US$ 300 bilhões anuais.

Certamente, os EUA superarão as dificuldades do momento, porque sua economia é sólida, concentrando 33% do PIB global. A energia revigoradora do empreendedorismo da livre empresa está amalgamada em toda sociedade. A inovação tecnológica, a excelência científica e a multiplicidade de patentes não têm semelhança em país algum.

O povo norte-americano carrega em si capacidade de trabalho e vontade férrea para suplantar obstáculos, embora se deva salientar que vivemos em uma terra cada vez mais interdependente, com a globalização apontando que o dólar precisa conviver harmonicamente com o euro, o yuan chinês, o yene japonês, o rublo russo e quem sabe o real, em um futuro próximo.

Só um fator poderá acarretar o enfraquecimento do império norte-americano: a mentalidade belicosa das suas elites governamentais, insufladas pelo complexo industrial e militar, excessivamente influente depois da Segunda Guerra Mundial. O próprio comandante-em-chefe das forças aliadas no conflito, general Eisenhower, eleito em 1953 presidente dos EUA, em memorável discurso fez um alerta em relação ao conúbio industrial militar.

Léo de Almeida Neves, membro da Academia Paranaense de Letras, é ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil.

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