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Presidente Jair Bolsonaro e ministro Paulo Guedes
| Foto: Isac Nobrega/PR

Tema quente nos últimos dias, todos se perguntavam: Paulo Guedes vai sair do governo em 2020?

A incerteza foi motivada pela saída de mais dois representantes da equipe econômica:  Salim Mattar, da Secretaria de Desestatização e Privatização, e Paulo Uebel, da Secretaria de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Ambos cuidavam de duas agendas prioritárias e representativas da bandeira liberal do ministro da Economia: diminuição do Estado e melhoria da gestão pública. Como não viram (ou conseguiram) avanços imediatos, deixaram os postos. Os motivos são legítimos no âmbito privado e individual, mas o fato é que esse episódio expôs a incapacidade do governo em cumprir, a essa altura do jogo, algumas de suas promessas de campanha.

A partir daí as especulações no mercado financeiro se multiplicaram, o dólar subiu, a bolsa caiu. E o empresariado ficou receoso – o que será da economia daqui para a frente? E diversas pessoas nos fizeram a pergunta que vale um milhão: Paulo Guedes sai ou fica no governo Bolsonaro ainda este ano?

A tranquilização veio na segunda-feira seguinte, com a nomeação dos substitutos e a reafirmação de seu compromisso com a pasta que assumiu. Foi mais um “Dia do Fico”. Porém, essa condição tem sua volatilidade e novos ventos podem sacudir novamente o frágil equilíbrio que se recompôs. Assim, a grande pergunta continua em aberto.

A saída definitiva de Paulo Guedes é um risco político. Além de representar o fracasso da (tentativa de) agenda liberal, pode causar uma grave insegurança nos mercados, nos setores produtivos e nos investidores, consequentemente afastando o capital e retraindo o investimento. A consequência, infelizmente, o país já conhece, pois já vimos esse filme.

Vamos, então, realizar um exercício técnico e objetivo para estimarmos quais as chances de Paulo Guedes sair. Antes de tudo, precisamos ver o contexto geral. O governo de Jair Bolsonaro já perdeu 10 de seus 23 ministros, que deixaram as pastas antes da metade do mandato e deram uma outra configuração ao governo. Um dos que saíram foi Sergio Moro. Ele e Paulo Guedes eram os superministros, ícones das bandeiras de Jair Bolsonaro de combate à corrupção e economia liberal.

Outro ponto importante é observarmos que existem dois caminhos possíveis para sua saída: por vontade própria ou por pressão externa.

Primeiramente, vamos tratar da hipótese de Guedes sair por sua própria vontade. Aqui as variáveis condicionantes são duas: 1. o caso de um eventual insucesso deliberado, por parte de Bolsonaro, em avanços nas reformas estruturantes (tributária e administrativa), que consideramos de baixa probabilidade; e 2. a ocorrência de um furo no teto de gastos (ainda que se traga legalidade para a manobra) e desequilíbrio fiscal deliberado pelo governo, possibilidade que já nos parece mais plausível diante da crise da Covid-19 e das recentes políticas redistributivas (os R$ 600), que ressoam muito bem nas pesquisas de aprovação de Bolsonaro e, por conseguinte, trazem benefícios eleitorais.

No outro caminho analisado, Guedes é pressionado a sair. Nesse panorama, haveria três hipóteses condicionantes: 1. pressão política, possivelmente motivada pela vontade de utilizar recursos públicos e uma insistência de Guedes em impedir que isso ocorra, o que teria chances médias de acontecer; 2. ruptura com o mercado, consistindo em uma perda do apoio que hoje Guedes tem dos principais setores da economia. No entanto, com o cenário atual, essa hipótese é remota; e 3. caso a economia tenha um desempenho ruim e Guedes seja responsabilizado, o que pode acontecer, embora seja pouco provável no curto prazo.

Por meio de nossa metodologia de estimativa de risco político, e utilizando como recorte temporal o presente semestre, podemos afirmar que, mantidas as condições de quando redigimos este texto, existem 38,7% de chances de Paulo Guedes sair por vontade própria ainda em 2020 e 36,5% de chance de ele sair por pressão externa. Mas, como dissemos antes, esse é um equilíbrio frágil e essa estabilidade pode ser abalada ao sabor, velocidade e intensidade dos ventos. E no Planalto Central venta bastante.

Eduardo Galvão é professor de Relações Governamentais e de Políticas Públicas no IBMEC e fundador do Pensar RelGov. Caliel Calves, analista político graduado em Relações Internacionais, é pesquisador do Caeni/USP e voluntário no Politize! Henrique Amorim é analista político graduado em Relações Internacionais com MBA em Relações Institucionais.

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