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Podemos dizer que, sem exageros, o Brasil sabe que a educação de nossos alunos precisa melhorar, e com urgência. Percebemos que o cenário real não é nada bom quando são noticiados os baixíssimos resultados dos estudantes em diferentes sistemas de avaliação educacional, como a Prova Brasil, o Enem, o Pisa entre outras. Constatamos igualmente a dramática situação do nível de conhecimento escolar da nossa população, quando assistimos a algum programa de TV que requer que os participantes demonstrem, minimamente, o que se espera que tenham aprendido em suas escolas, diga-se de passagem, em perguntas básicas e com múltipla escolha de respostas.

Esse quadro atual da educação brasileira não pode ser dissociado da qualidade da formação dos nossos professores. É comum acreditar que para ser professor não é necessário muito estudo e experiência, basta lembrar de seu tempo de aluno e tentar repetir o que foi vivido. Há até quem pense que bons professores já nascem bons!

Não tenhamos dúvidas que precisamos, com absoluta premência, reestruturar de forma consistente os cursos que formam os professores, em especial o curso de Pedagogia que tem como objetivo transformar qualquer aluno interessado em ser professor da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental em ótimo profissional, tão importante para uma sociedade que quer e precisa se desenvolver.

Há uma vasta bibliografia acadêmica que ensina o professor a saber como os estudantes aprendem

Igualmente preocupados com a formação de professores da educação básica, o governo federal, por intermédio do MEC, encaminhou para o Conselho Nacional de Educação (CNE), no final de dezembro de 2018, um documento intitulado Base Nacional Comum da Formação de Professores da Educação Básica. Trata-se de uma proposta que abrange tanto a formação inicial quanto a formação continuada de professores e visa rever vários aspectos, em especial, as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de licenciatura. O CNE, após ter avaliado o documento, iria discutir em audiências públicas para depois, já com os devidos ajustes, aprovar e reenviar ao MEC para ser homologado. Com a mudança de governo, a atual equipe do MEC, na semana passada, pediu ao CNE que devolvesse o documento para que pudesse analisar e decidir se irá ou não fazer alterações.

Estamos, portanto, em um momento bastante oportuno para discutir o que deve ser ensinado em um curso de Pedagogia e o que efetivamente se espera que o aluno, futuro professor da educação infantil e dos cinco primeiros anos do ensino fundamental, seja capaz de fazer ao concluir esse curso.

Não por outro motivo, eu e Ilona Becskeházy, renomada educadora, estamos trabalhando na elaboração de um “projeto de curso ideal de Pedagogia”. Queremos disponibilizar nossa proposta de forma aberta e pública para que possamos, assim, darmos contribuições concretas e específicas para o atual debate, além de podermos recolher opiniões e sugestões de colegas educadores.

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O nosso ponto de partida para o curso (ideal) de Pedagogia se apoia conceitualmente em dois autores bastante conhecidos internacionalmente no ambiente educacional e, especificamente, no de políticas de formação de professores: Lee Shulman (norte-americano) e Michael Young (britânico). E, para garantir uma coerência programática, iremos estruturar o curso em cinco grandes blocos que, por sua vez, englobam todas as disciplinas.

O objetivo do primeiro bloco é ensinar aos futuros professores sobre a lógica curricular das áreas de conhecimento e disciplinas que compõem a educação infantil e as séries iniciais. Iremos fazer uma revisão dos conteúdos de todas essas disciplinas visando preencher possíveis lacunas na formação escolar dos candidatos a professor, ao mesmo tempo em que serão analisadas a estrutura, linguagem, detalhamento e progressão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), explorando as sinergias ou antagonismos com os documentos similares de outros países desenvolvidos.

O segundo bloco é o “coração” do curso: o conhecimento didático pedagógico. É o que todo professor precisa saber: planejar, aplicar e avaliar suas aulas visando a aprendizagem de seus alunos. Ele deve também saber organizar e fazer a gestão de uma sala de aula em total sintonia com os objetivos que foram definidos nos seus planos.

Terceiro bloco: conhecer seus alunos. Parece tarefa trivial que não exige conhecimento acadêmico. Enorme engano. Há uma vasta bibliografia acadêmica que ensina o professor a saber como os estudantes aprendem, além de orientar no reconhecimento das características e do contexto onde vivem seus alunos. Assim, ele poderá escolher as melhores possibilidades didáticas a serem utilizadas.

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No quarto bloco, os professores serão ensinados como funciona uma escola; além do arcabouço institucional e legal da educação no Brasil. E, no quinto e último bloco será oferecido um repertório mínimo de conhecimento histórico, filosófico e cultural para que possa exercer a docência.

Para cada disciplina que irá compor os blocos iremos definir um conjunto de livros-texto, além de detalhar os conteúdos que devem ser ensinados, trazendo o que as pesquisas e as experiências já evidenciam como sendo de sucesso.

E para finalizar nossa proposta de curso, o futuro professor terá contato, de forma gradual, com a realidade do “chão da escola” desde o primeiro até o último semestre. Afinal, só se aprende a dar aulas a partir da prática. Isso acontecerá em escolas que serão parceiras da instituição formadora, cujo corpo docente deverá criar ambientes que permitam sempre a reflexão e que inclui avaliar, rever, autocriticar-se e aprender com a experiência.

Como se pode ver, para se tornar um bom professor é preciso conhecimento específico. E ser um bom professor é fazer com que seus alunos tenham aprendizagem de excelência e que isso ocorra de forma equitativa. A boa notícia é: o ensinar pode ser ensinado!

Márcia Teixeira Sebastiani é consultora e doutora em Educação.
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