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| Foto: Marcos Tavares/Thapcom

O Acordo de Paris, estabelecido em 2015 na COP 21, reúne países que assumiram compromissos voluntários para manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais. Esses países reconhecem que as mudanças climáticas representam uma ameaça urgente para a sociedade e para a economia, e requerem uma ação coletiva. O acordo teve participação decisiva do Brasil, que mostrou sua liderança e capacidade diplomática para tratar de questões complexas. A adesão dos Estados Unidos foi histórica, o que reforça a influência brasileira.

O Brasil deve permanecer no Acordo de Paris em razão das questões ambiental, social, econômica e de legado às futuras gerações. A sociedade e a economia são dependentes da qualidade ambiental. Sem recursos naturais não existe produção econômica, nem geração de emprego e renda. Vários mercados adquiridos a duras penas estão relacionados às ações do governo brasileiro para o enfrentamento das mudanças climáticas, em especial os mercados agropecuários. Ademais, os países desenvolvidos estão conduzindo uma revolução tecnológica ambiental, e o Brasil poderia perder a oportunidade de liderar esse processo.

Apesar de o governo dos EUA ter anunciado a saída do Acordo, seus estados dispõem de legislação específica para o enfrentamento das mudanças climáticas

O Brasil se comprometeu com a redução em 37% das emissões até 2025, e 43% até 2030, em relação ao ano-base de 2005. Estima-se que 71% das emissões brasileiras sejam oriundas do desmatamento e da pecuária, conforme divulgado pelo Observatório do Clima. Assim, a redução do desmatamento e a recuperação da vegetação nativa têm papel central no enfrentamento das mudanças climáticas porque, além de reduzir as emissões, contribuem para o sequestro de carbono, provisão de serviços ambientais e para a transição ecológica da sociedade e do setor agropecuário.

As mudanças climáticas também colocam em risco a vida das pessoas, pois as emissões degradam a qualidade do ar. A Organização Mundial da Saúde revelou que, anualmente, 8 milhões de pessoas morrem precocemente em função da poluição do ar. Este é um custo social irreversível. Em outubro de 2018, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou um relatório que mostra uma aceleração do degelo das calotas polares, elevação do nível dos oceanos e a ocorrência de eventos extremos, como chuvas ou secas intensas.

Leia também: Acordo de Hamelin (artigo de João Daniel Ruettimann, bacharel em Relações Internacionais, é mestre em Negócios Internacionais pela Boston University e pós-graduado em Comércio Internacional e Economia lato sensu em Escola Austríaca de Economia)

O Brasil já sofre com a ocorrência desses eventos extremos, como as recentes secas no Nordeste, Brasília e São Paulo, e as chuvas intensas, inclusive com tornados. Esses eventos climáticos têm gerado prejuízos sociais e econômicos enormes e irreversíveis. Os países pobres e em desenvolvimento são os mais afetados em função de sua insuficiente infraestrutura social e econômica. O seu agravamento exigirá que o governo aporte mais recursos financeiros, já escassos diante da crise fiscal. As mudanças climáticas, portanto, podem afetar nossa organização social e econômica.

Apesar de o governo dos EUA ter anunciado a saída do Acordo, seus estados dispõem de legislação específica para o enfrentamento das mudanças climáticas. O mesmo ocorre no Brasil, que conta com uma política nacional e várias políticas estaduais. As mudanças climáticas são reais, graves e devem ser enfrentadas com urgência pela sociedade. Não devem ser tratadas de forma ideológica, mas com o apoio da ciência, da tecnologia e da sociedade. Neste sentido, qual o legado que a geração presente deixará para as futuras? Vale a pena apostar a vida das futuras gerações e sua estabilidade social econômica apenas por uma questão ideológica?

Junior Ruiz Garcia, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná e pesquisador do CNPq, é diretor da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica. Daniel Caixeta Andrade, professor do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia e Pesquisador do CNPq, é presidente da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica.
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