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Se for preciso escolher, reabrir antes as escolas primárias
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Com o início da pandemia de Covid-19, os pilares das políticas governamentais foram saúde e economia. Agora, a prioridade é de que maneira promover o retorno seguro às escolas, vendo a educação neste momento como terceiro pilar fundamental de nossa sociedade. Em março deste ano, 90% das escolas no mundo foram fechadas, deixando 2 bilhões de crianças sem os benefícios não só da aprendizagem, mas também da alimentação, socialização, atividades físicas e segurança.

Hoje, é inegável e indiscutível a necessidade de reabrir as escolas, desde que o município esteja em um momento da pandemia que permita esta reabertura. A pergunta é: quem deve reabrir primeiro, as escolas primárias ou secundárias? Ainda não tendo total conhecimento de qual é o papel das crianças nesta pandemia, acredito que, seguidos os protocolos de biossegurança, há condições de reabertura para todos, assim como ocorreu em vários locais do mundo. Mas, se tivermos de optar, as escolas primárias devem ser reabertas antes. E digo isso com base em vários argumentos.

Quanto menor a idade, menor o risco de infecção. Estudos mostram que crianças menores de 10 anos contraem duas a três vezes menos a Covid-19 quando expostas aos mesmos fatores de risco, comparadas aos adolescentes. Além do número de casos, a gravidade também é menor, observando-se menos casos graves, menor necessidade de internação e mortalidade.

Formas graves são mais raras em crianças, mas, com a descrição da Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças, observou-se que esta doença não é tão benigna assim, sendo esta síndrome mais comum em crianças acima de 10 anos e com mortalidade até dez vezes maior que a fase aguda da Covid-19.

Adolescentes, apesar de terem mesma carga viral de crianças menores, eliminam por mais tempo o vírus, contaminando mais os seus contatos. E as medidas de mitigação são mais eficazes, melhor aceitas e mais fáceis de serem aplicadas em crianças menores de 10 anos do que entre adolescentes, pois estes vivem em grupos e têm mais dificuldade em seguir as determinações, principalmente de não se aglomerar. Uma comprovação disto foi o inadmissível aumento de mais de 700% de casos da Covid-19, em Curitiba, entre adolescentes e adultos jovens.

Por fim, 90% dos alunos no Brasil são de escolas públicas, e na maioria das vezes seus pais não têm condições de trabalhar em home office, sendo a reabertura das escolas fundamental para que eles voltem ao trabalho. Neste caso, a reabertura das escolas primárias seria prioritária para garantir a segurança dessas crianças durante a jornada de trabalho de seus pais. Tão ou mais importante que quando ou quem deve retornar primeiro é a garantia que toda sociedade deve dar para que os alunos de escolas públicas tenham os mesmos direitos e segurança que os alunos de escolas privadas, pois sem dúvida as crianças do ensino público são as grandes vítimas silenciosas desta nada democrática pandemia.

Reabrir as escolas é uma questão complexa e delicada, sendo um passo fundamental para o bem-estar e segurança de todos. Alterações poderão e deverão ser feitas, mas devemos ter otimismo com os bons resultados dos mais de 60 países que já promoveram esta reabertura. Crianças, familiares e educadores merecem escolas seguras e confiáveis, e isso não deve ser controverso ou nem sequer discutido.

Rubens Cat é professor doutor de Pediatria da UFPR.

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