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Ciências Biológicas, Exatas e da Saúde compõem o ‘top 3’ em recursos de pesquisa do CNPq
Análise em microscópio. Imagem ilustrativa.| Foto: Lucas Vasques/Unsplash

O método científico é um conjunto sistemático de regras e procedimentos que devem ser seguidos para, em uma pesquisa ou investigação cognitiva, chegar-se à determinada conclusão objetivando conhecer a verdade. A palavra método pode ser definida como “caminho para um resultado”.

O conhecimento científico é o resultado de um trabalho de investigação, com experimentos válidos e controlados, portanto, diferente da mera opinião. Os gregos, sobretudo com Aristóteles (384a.C–322a.C), estabeleciam uma diferença entre a “episteme” e a “doxa”. A episteme era o reino do conhecimento, portanto derivado de estudo e experimentos, enquanto a doxa era o reino da opinião, sem estudo e sem pesquisa.

Tomemos o exemplo de uma vacina para combater o coronavírus. Ela só existe após exaustivos trabalhos feitos por cientistas que detêm conhecimento de sua ciência, longas pesquisas e testes, até que, compreendendo a lógica do vírus, como ele ataca e que efeitos produz no organismo humano, conseguem sintetizar um medicamente capaz de dar-lhe combater e impedir a prosperidade da doença.

Epistemologia é a teoria do conhecimento. Nunca se falou tanto em seguir a ciência, respeitar a ciência e tomar medidas de políticas públicas com base na ciência. Esse foi e é o mantra no enfrentamento da pandemia. Entretanto, algo curioso acontece e por uma razão simples: mesmo o mais competente cientista é um ser humano e ele próprio tropeça nas receitas que prescreve para os outros.

Imaginemos certo cientista brasileiro, autoridade em sua área biológica, respeitado pela comunidade de pesquisadores, que vem e fala com o peso de sua autoridade no assunto. Ele reclama e critica o governo porque, segundo ele, as autoridades sanitárias não estão seguindo a ciência. Aí, alguém afirma que o coronavírus nasceu na China, os primeiros infectados foram na China, em Wuhan, e que há três hipóteses para o surgimento do vírus.

Primeira: o vírus passou de um animal (talvez o morcego, que é consumido com alimento na China) para o ser humano. Segunda: o vírus é um produto de laboratório que, no curso das pesquisas, escapou por acidente e se instalou em humanos. Terceira: o vírus é uma criação proposital e foi lançado sobre os humanos por decisão demoníaca de alguém daquele país.

Como a origem do vírus ainda não é fruto de polêmica, essas três hipóteses andaram circulando o mundo. É claro que o governo chinês rejeita de cara a terceira hipótese (que o vírus foi criado como arma biológica), pois essa hipótese pressupõe o desejo deliberado de provocar o mal e a destruição. Porém, afora a questão política, do ponto de vista científico, essa terceira hipótese é apenas e tão somente uma hipótese de pesquisa.

Agora, aquele cientista brasileiro tão cioso da necessidade de seguir a ciência, e tão crítico de quem não a seguiu (no julgamento dele), vem a público e diz: “não dou o menor crédito à hipótese três, pois se um país destrói o mundo para poder dominar, ele dominará cadáveres e escombros; isso não faz sentido”.

Ora, nesse momento, o tal cientista cioso da ciência, saiu da episteme, abandonou a necessidade de conhecimento, e se meteu na doxa, e deu uma opinião nada científica. Ou seja, ele se igualou àqueles a quem dirige sua crítica. Sem confronto de hipóteses não há ciência, como não há ciência em abandonar uma hipótese sem sequer aceitar investigá-la e testá-la, porque isso fere o interesse político de alguém.

Pois bem, aquilo que parecia inadmissível começa agora ser colocado como uma hipótese, depois que 18 cientistas renomados publicaram um artigo na revista Science, pedindo à China que se abra para investigar as hipóteses de que o vírus tenha sido criado em laboratório e que tenha saído dali para infectar os humanos, ou por acidente ou por decisão política deliberada.

Mas a questão essencial que quero colocar aqui é: mesmo os cientistas, porque são humanos, acabam por cometer o mesmo vício que condenam: emitir opinião nada científica, como se por serem autoridade em sua área aquela opinião tem válida automática e deve ser aceita sem questionamento pelos comuns mortais.

A autoridade de um cientista não está em sua opinião, mas em seus anos de estudos, seu conhecimento teórico, sua experiência em pesquisa e em suas descobertas, estas também submetidas à validação por outros cientistas e pela realidade dos fatos. O descarte de uma hipótese sem submetê-la a testes e experimentos é uma atitude anticientífica. Afinal, hipótese é uma tese fraca (hipo = fraco), por isso a necessidade de submetê-la a testes, seguindo o método, a fim de confirmá-la ou refutá-la.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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