• Carregando...

George W. Bush é o favorito disparado nas pesquisas para a escolha de pior presidente dos Estados Unidos em todos os tempos. Suas credenciais para isso são vastas, pois ele realmente caprichou na desconstrução do sonho americano. Ao longo de seus oito anos de governo, foram sendo dissipadas as certezas que a orgulhosa população ianque cuidadosamente nutria e destruídas as ilusões que, ingenuamente, embalava.

Já no começo de seu governo, foi-se a certeza dos americanos quanto à inexpugnabilidade de seu território, que nunca havia tido seu solo continental atacado, em quase quinhentos anos de história. O atentado às torres gêmeas destruiu esse pensamento reconfortador. Nem me passa pela cabeça atribuir culpa a Bush pelo atentado, mas quando se tratou de reagir, ele não fez exatamente coisas muito sensatas; ao contrário, esmerou-se nas escolhas equivocadas. Embrenhou-se em uma guerra no Afeganistão e no Iraque e conseguiu várias proezas ao mesmo tempo, além de desestabilizar de vez uma região do mundo já cronicamente turbulenta: destruiu o mito do poderio militar americano, que já havia sido sapecado pela guerra do Vietnã, mas que tinha se recuperado em parte com o fim da União Soviética e a Guerra do Golfo. Cinco anos depois de declarar vitória na Guerra do Iraque, as tropas americanas ainda estão no país, já perderam mais de 1,4 mil combatentes e não têm data certa para voltar para casa; pior ainda, a guerra no Afeganistão, que também havia sido dada como vencida, recrudesceu e agora boa parte do país está de novo nas mãos do Talibã. De quebra, estima-se que a aventura iraquiana já tenha custado quase um US$ 1 trilhão.

A destruição da era Bush não poupou as instituições. A solidez das garantias democráticas e o respeito aos direitos humanos, de que a sociedade estadunidense sempre se gabou, com toda a justiça, foram atropelados pelas torturas aos prisioneiros em Abu Ghraib, pelo confinamento de centenas de pessoas sem culpa formada ou sequer imputada em Guantánamo, em condições desumanas, incomunicáveis, sem poder receber advogados ou a própria família. Quando a Suprema Corte tentou coibir essas agressões ao Estado de Direito, o governo Bush respondeu com artifícios para burlar as decisões da justiça. Agora, vêm à tona denúncias de que ele, pessoalmente, teria aprovado o uso de tortura em interrogatórios.

Faltava a economia para completar o estrago. Bush recebeu o governo com um superávit público multibilionário, que paciente e diligentemente transformou em um déficit trilionário. Recebeu um dólar fortalecido e vai devolver o país com o dólar nos níveis mais baixos da história recente. Assistiu impotente e impassível à gestação da maior crise financeira desde o grande crash de 1929, que levou o sistema financeiro à quase-falência, lançando nuvens negras sobre o futuro da economia mundial. Um paciente que acordasse agora de um coma de alguns meses não encontraria mais nomes que estiveram décadas na liderança da banca americana: Merril Lynch, Bear &Stearns, Lehman & Brothers, Wachovia... Para culminar, como a cereja do bolo, perdeu a liderança da economia mundial para a Europa e acaba de anunciar que vai colocar US$ 250 bilhões no capital dos maiores bancos americanos, semi-estatizando o setor. Foi por água abaixo a crença enraizada dos americanos nos poderes regeneratórios da economia de mercado.

Realmente, os Estados Unidos nunca mais serão os mesmos depois de George Walker Bush. Ninguém duvida que tenha feito tudo isso por patriotismo e com as melhores intenções. Aí me vem a lembrança a charge cruel, mas verdadeira, de Millôr Fernandes sobre a gestão de Saturnino Braga, um homem reconhecidamente honesto, mas que foi um dos piores prefeitos do Rio de Janeiro: "Saturnino, o homem que desmoralizou a honestidade". Pois Bush é o homem que desmoralizou o patriotismo e as boas intenções.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professordo doutorado em Administração da PUCPR.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]