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A ideia que a pequena empresa, o pequeno negócio e a pequena escala possam ter certas vantagens surgiu-me quando eu era estudante de Economia, ao ler o livro O Negócio é Ser Pequeno, escrito em 1973 pelo economista alemão Ernst Friedrich Schumacher (1911-1977).
A ideia que a pequena empresa, o pequeno negócio e a pequena escala possam ter certas vantagens surgiu-me quando eu era estudante de Economia, ao ler o livro O Negócio é Ser Pequeno, escrito em 1973 pelo economista alemão Ernst Friedrich Schumacher (1911-1977).| Foto: Pixabay

Começo prestando homenagem a um profissional que admiro, Nizan Guanaes, sobretudo por uma coincidência: no ano passado, fiz uma fala a alguns jovens que, desalentados com o desemprego na pandemia, cogitavam tornar-se pequenos empreendedores. Sem a verve afiada de Nizan, eu comentei com os meninos sobre as palavras que estão no título deste artigo e, eis que no dia 18 de junho de 2021, leio no jornal Valor Econômico Nizan falando desse tema de forma interessante.

A ideia que a pequena empresa, o pequeno negócio e a pequena escala possam ter certas vantagens surgiu-me quando eu era estudante de Economia, ao ler o livro O Negócio é Ser Pequeno, escrito em 1973 pelo economista alemão Ernst Friedrich Schumacher (1911-1977). Pensador de influência internacional, o autor realizou estudos sobre o sistema produtivo e o funcionamento das empresas, e fez sucesso ao criticar a idolatria pela empresa grande.

O livro O Negócio é Ser Pequeno deriva da coletânea de ensaios sobre a filosofia de Schumacher relativa ao pensamento empresarial da época, quando ele tratava também da questão ambiental e do foco no ser humano. O livro fez sucesso no mundo inteiro pela qualidade da análise sobre algumas falácias quanto à “economia do grande”. A ideia vigente naqueles anos 1970 era de que tudo o que é grande é bom.

Schumacher alertava: “Uma atitude em relação à vida que busca a realização na obsessiva perseguição à riqueza – em resumo, no materialismo – não cabe neste mundo, porque não contém princípios de limite, enquanto o ambiente em que está inserida é rigorosamente limitado” e, além do mais, “a prosperidade não pode ser alcançada apenas quando se cultivam instintos da natureza humana como a cobiça e a inveja, que destroem a inteligência, a felicidade, a serenidade e, desse modo, a tranquilidade do homem”, dizia ele.

Esse provocante economista realçava o problema do crescimento seduzido pela tecnologia de grande escala, pois “as soluções científicas ou tecnológicas que envenenam o ambiente, ou degradam a estrutura social e o próprio homem, não são benéficas, não importa quão brilhantemente tenham sido projetadas”. Para alguns, Schumacher era uma espécie de economista hippie, que amava os negócios pequenos e criticava a idolatria do grande. Mas não era isso. Ele tinha bronca da grande empresa e sua tecnologia prejudicial ao meio ambiente e ao ser humano.

Ser grande não é necessariamente ser bom ou ser melhor; Schumacher insistia nessa ideia. Atualmente, muitos analistas sobre o mundo corporativo falam do pesado custo da grande corporação, com suas burocracias inchadas, gastos elevados para evitar erros ou para corrigi-los. No atual ambiente competitivo e com o esgotamento de recursos naturais, a moda é simplicidade, agilidade, leveza e eficácia. Ser simples, ágil e leve não é fácil para as grandes organizações, pois elas são estruturas complexas e pesadas por natureza.

Uma questão que sempre me intrigou, e está relacionada à crença de que ser grande é sempre bom, é o fato de muitas empresas no Paraná terem decretado sua morte quando cresceram. Ao se tornarem grandes, elas acabaram em um de três destinos: quebraram, fecharam ou foram vendidas. E os compradores são sempre de outros estados ou outros países. Se listarmos as 30 maiores empresas paranaenses dos anos 1970 e 1980, a maioria não existe mais como tal. As que não quebraram foram vendidas.

Esse processo não mudou muito nos últimos anos, e é grande a lista de empresas locais que foram vendidas após crescerem; entre elas estão hospitais, supermercados, fábrica de geladeira, bancos, indústrias de alimentos e por aí vai. Atualmente, há grandes empresas paranaenses. Mas não se sabe quantas continuarão a existir daqui a dez anos sem falir, fechar ou ser vendidas.

A empresa pequena, por sua vez, precisa zelar para não cometer erros capazes de fazê-la sucumbir, como, por exemplo, não ser simples, leve e ágil. Se for complicada, pesada e lenta, a morte é questão de tempo. Outro equívoco a ser evitado é a mistura da vida empresarial com a vida pessoal da família do empreendedor, pois essa confusão é causa de muitos fracassos.

De certa forma, o pequeno negócio deve perseguir quatro vantagens:

1. estrutura enxuta, com poucos níveis decisórios;

2. rapidez nas soluções justamente pela razão anterior;

3. processos operacionais e burocráticos simples, organizados e rápidos;

4. soluções descomplicadas e sem custos de relacionamento.

Os aspectos acima não esgotam as necessidades da boa gestão empresarial do pequeno negócio nem formam uma receita pronta e acabada para o sucesso. Mas são parte dos fundamentos necessários ao êxito do negócio.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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