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A esperança é intrínseca ao Cristianismo. Os cristãos creem no sol mesmo durante a noite, mas no Iraque atual parecem viver uma noite longa demais.

Os conflitos se agravaram desde que um grupo que se autodenominou Estado Islâmico do Iraque e do Levante – e, mais recentemente, apenas Estado Islâmico (EI) – decidiu impor uma interpretação radical da sharia como lei absoluta.

No mês de junho, isso custou a vida de mais de 2,4 mil pessoas, e recentemente o Estado Islâmico enviou comunicado para os cristãos de Mossul oferecendo quatro opções: ir embora, se converter ao Islã, pagar a jizya (imposto para a proteção dos não muçulmanos) ou "não haverá mais nada para eles além da espada", ou seja, a morte é a última opção.

Em Mossul não há mais nenhum cristão. E não se trata de uma simples fuga com seus pertences. Ao deixarem seus lares – que se tornam imediatamente propriedade do Estado Islâmico –, carregando seus filhos nos ombros e seus idosos nas cadeiras de rodas, são obrigados a deixar também seus bens, carros, celulares e até mesmo o dinheiro que têm no bolso.

Para aqueles que ficaram nos distritos ao redor de Mossul, o que antes era lar se tornou um ambiente hostil. O Estado Islâmico cortou o fornecimento de água potável nos distritos de Al Hamdaniya, Bartala e Bashika. O motivo alegado é o castigo aos cidadãos "infiéis" que não juraram lealdade a Abu Bakr al Bagdadi, líder do Estado Islâmico. No entanto, o ódio do grupo não se restringe apenas aos cristãos. Segundo dom Yousif Mirkis, arcebispo caldeu de Kirkuk, esse grupo radical "odeia todos aqueles que não concordam com sua visão de mundo".

Ainda de acordo com dom Mirkis, os melhores antídotos contra o extremismo são o diálogo e a cultura: "Quanto mais cultura dermos a um país, menos suscetível ele é ao fanatismo". O povo iraquiano não é naturalmente fanático, mas sim manipulado. A elite muçulmana tem um bom diálogo com os cristãos; no entanto, essa mesma elite tem sido massacrada nos últimos anos. Desde 2013 mais de 180 professores universitários foram mortos em ataques, grande parte dos médicos também deixou o país e as consequências de um povo sem boas referências intelectuais estão aí.

Na associação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, estamos em constante contato com regiões de conflito no mundo todo, tentando auxiliar os cristãos onde correm o risco de perder sua fé por quaisquer motivos. Os contatos são sempre feitos através dos bispos e, quando nossos correspondentes ligam para os bispos do Iraque e ouvem como resposta um "não podemos falar", sabemos que vidas estão em risco.

Há algumas semanas enviamos ajudas emergenciais para as pessoas que estavam deixando Mossul, mas as ajudas que nos pediram na semana passada foram apenas orações e pressão internacional. Mais ajuda financeira será bem-vinda apenas depois, para reconstruir o que sobrar quando tudo acabar. Se sobrar, e se acabar. Isso não impede totalmente que as ajudas sejam enviadas, mas dificulta bastante.

No último contato com o chefe da Igreja Católica caldeia, o patriarca Louis Sako, o pedido foi por pressão internacional. Ele se refere à comunidade internacional como "observadores" que não se envolvem, e completa dizendo que "a política internacional persegue apenas interesses econômicos", uma perspectiva que torna a longa noite dos cristãos ainda mais escura.

Rodrigo Arantes é jornalista da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.

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