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PIB baixo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Governo nenhum quer ter resultado negativo. Pela lógica, se a população cresce, a economia também precisa crescer, para aumentar a renda por habitante. É assim que funciona. E quando a economia cresce, aumenta a arrecadação e o poder público pode oferecer melhores serviços às pessoas.

O crescimento de 2,3% no Produto Interno Bruto do Paraná no primeiro trimestre de 2020, divulgado pelo Ipardes, mostra que o estado estava no caminho certo. Não fosse a pandemia, poderíamos seguir a rota que estava traçada sem titubear, certos de que os números seriam positivos no final. Mas o cenário mudou e, junto com os novos planos, temos a oportunidade de repensar as ações e os resultados esperados.

Nos últimos meses, uma grande equipe do governo está focada na criação de programas de geração de emprego e renda, economia de recursos públicos e auxílio aos que mais precisam. Faço parte da equipe e, enquanto acompanho o desenrolar do trabalho, busco inspiração em líderes do presente e do passado. Fiquei impactado com um discurso feito em 1968 na Universidade do Kansas pelo senador Robert Kennedy, irmão do ex-presidente americano John Kennedy. Reproduzo a parte que tem a ver exatamente com o PIB.

“Nosso Produto Interno Bruto agora ultrapassa 800 bilhões de dólares por ano. Mas nesse PIB estão embutidos a poluição do ar, os comerciais de cigarro e as ambulâncias para limpar nossas carnificinas. Ele inclui fechaduras especiais para as nossas portas e prisões para as pessoas que as arrombam”, disse. Após citar a destruição da natureza, guerras e estímulo à violência, o autor segue por um caminho que não tem a ver apenas com números. “Ele não mede nosso talento ou nossa coragem, nossa sabedoria ou nosso aprendizado, nossa compaixão ou nossa devoção a nosso país. Ele tem a ver com tudo, em suma, exceto com aquilo que faz com que a vida valha a pena.”

Como pai, não posso deixar escapar outro trecho. “O PIB não garante a saúde de nossas crianças, a qualidade de sua educação ou a alegria de suas brincadeiras.” Estou convicto de que precisamos agir para que a economia cresça. No entanto, creio que precisamos pensar em como melhorar a qualidade desse PIB. Os valores expressos em moeda são importantes, porém, não mais que os valores que não podem ser medidos por cifrões.

No Paraná, temos o privilégio de ter bons resultados no campo, ofertando alimento para os paranaenses, para os brasileiros e para moradores de outros tantos países. Cerca de um terço do nosso PIB vem da agropecuária e temos muito a agradecer porque, no meio da pandemia, continuamos produzindo grãos, carnes, derivados de leite e uma infinidade de itens que vão para a mesa, que matam a fome, que fazem parte de momentos festivos.

Precisamos retomar a economia, crescer em outras frentes, mas não a qualquer preço. É hora de governo e sociedade refazerem perguntas. Que tipo de indústria queremos atrair e até mesmo incentivar? É poluente? Prejudica a natureza? O que produz faz mal para a saúde? Os valores que a empresa defende podem ser compartilhados? Se o PIB representa a soma dos valores dos bens e serviços produzidos, que valores estamos produzindo, de fato?

Temos visto o mundo cobrar desenvolvimento sustentável e preservação da natureza. Mas temos também de lançar foco nas pessoas e em sua dignidade, notadamente quanto ao afastamento das suas carências mais elementares. Sem vacina e sem tratamento adequado, a sociedade não teve outra opção a não ser o isolamento para salvar vidas, mesmo que isso tenha resultado em prejuízo financeiro. Se cada vida tem valor, quais opções serão feitas quando a pandemia passar? Valores éticos, cada vez mais, são fundamentais em qualquer decisão individual ou coletiva. Não podem mais ser admitidos comportamentos baseados no “eu ganho, você perde”. Nem tampouco corrupção ou má fé, seja na esfera privada ou pública.

Há tanta gente querendo empreender, inovar. Os paranaenses anseiam pelo desenvolvimento de tecnologias de ponta, limpa. Temos universidades que estão entre as melhores do mundo para ajudar por meio de pesquisas e também muitos jovens e adultos buscando oportunidades para colocar ideias em prática. Temos tanta produção para ser industrializada aqui mesmo, dentro de nossas fronteiras, por gente que vive aqui. Temos tanta beleza a mostrar, tanto serviço a prestar, tanto a crescer de maneira correta. Tanto já foi feito pelos que nos antecederam e ainda há tanto a construir.

Os números indicam que o próximo PIB virá negativo. A sabedoria está em compreender o momento e discernir os valores que devem ser preservados, sem desespero, ansiedade ou atropelos. Não há como fugir dos efeitos nefastos desta pandemia, mas há como fazer escolhas que não nos envergonharão no futuro perante nossos filhos.

Agindo assim, acumularemos tesouros que não podem ser destruídos por traça, por ferrugem ou por qualquer tipo de vírus. Se agirmos assim, conservaremos o que nos é mais caro. Nós, paranaenses, passamos por muitas dificuldades: secas, enchentes, vendavais e até mesmo “geada negra”. Mas, a todo momento, buscamos as escolhas corretas. Mais uma vez, vamos seguir firmes na busca da recuperação.

Valdemar Bernardo Jorge é secretário de Planejamento e Projetos Estruturantes do Governo do Paraná.

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