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Até o fim do século passado o cigarro era um hábito, presente em filmes, novelas e comerciais. Fumava-se dentro dos aviões, dos restaurantes e dos escritórios. Diante de inúmeras e irrefutáveis evidências que ligam o cigarro a doenças como o câncer e outras complicações médicas fatais, investiu-se em políticas eficientes que permitiram ao Brasil reduzir a um terço o número de fumantes, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Uma das medidas para controlar o tabagismo foi o aumento de impostos sobre cigarros, que cria uma barreira financeira e desencoraja o vício, salvando vidas.

Hoje, está na pauta de discussão o aumento de impostos sobre bebidas açucaradas, que incluem refrigerantes e sucos industrializados. A obesidade é hoje um dos principais riscos para o desenvolvimento de câncer no Brasil: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 13 em cada 100 casos de câncer no país são atribuídos ao sobrepeso e à obesidade. Este fato se torna ainda mais alarmante quando se leva em conta que 54% da população brasileira tem excesso de peso e quase 20% está obesa.

A OMS já declarou que o consumo de bebidas açucaradas é uma das principais causas da obesidade e do diabete. A maior parte das bebidas açucaradas não tem nenhum valor nutricional. Os açúcares contidos nessas bebidas alteram o metabolismo do corpo, afetam os níveis de insulina e colesterol e podem causar inflamações e pressão alta.

O consumo de bebidas açucaradas é uma das principais causas da obesidade e do diabete

A OMS recomenda o consumo de até seis colheres de chá de açúcar ao dia. Uma latinha de 355 ml de refrigerante tem, sozinha, cerca de 9,5 colheres de chá. Além disso, estudos mostram que o corpo humano não responde da mesma forma à ingestão de calorias ingeridas na forma líquida e em sua versão sólida. Em consequência disso, calorias líquidas resultam mais rapidamente em aumento de peso. A ciência vem provando, também, nos últimos anos, que o exercício físico tem um papel secundário na luta contra a epidemia da obesidade e que a redução da ingestão de calorias é muito mais efetiva para a perda de peso do que a prática de exercícios

Embora tenha caído, o consumo de refrigerantes ainda é muito alto: 16,5% da população diz ingerir refrigerante e outras bebidas açucaradas ao menos cinco vezes na semana.

As evidências indicam que o aumento de impostos ajudaria a reduzir o consumo de bebidas açucaradas, da mesma forma que ajuda a reduzir o consumo de cigarros, e é por isso que organizações internacionais como a OMS recomendam a adoção desse tipo de medida. No Brasil, uma pesquisa recente apontou que 74% das pessoas diminuiriam o consumo de refrigerantes e outros produtos, o que resultaria em um enorme ganho de saúde e bem-estar.

Imposto não é solução:  O doce salgado (artigo de Marco Aurélio Pitta, professor da Universidade Positivo)

A obesidade é uma doença causada por diferentes fatores. Trata-se de uma epidemia complexa e que exige ação em diferentes frentes, incluindo a conscientização permanente para os riscos do açúcar. Mas age de má-fé quem silencia diante do poder destruidor do açúcar e advoga contra medidas que podem salvar milhares de vidas.

Houve um tempo em que era normal guiar sem uso de cinto de segurança carros que não tinham sistemas de airbag. Um tempo em que era aceitável fumar em ambientes fechados e na companhia de crianças. Esperamos que esteja perto do fim este nosso tempo em que é considerado natural beber dez colheres de açúcar dentro de uma embalagem colorida.

Ana Paula Bortoletto é nutricionista e líder do Programa de Alimentação Saudável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Paula Johns é socióloga e diretora geral da ACT Promoção da Saúde, antiga Aliança de Controle do Tabagismo.
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