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A biologist wears a protective glove, mask, suit and visor as he collects samples from persons at a COVID-19 drive-in test center in Plabennec, western France, on July 20, 2020. (Photo by Fred TANNEAU / AFP)
Coleta de amostra para teste de Covid-19.| Foto: Fred Tanneau/AFP

Desde o início de 2020, o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), em estreita cooperação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), se dedica a empreender esforços para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 no Paraná e no país. No primeiro momento, dedicamo-nos a desenvolver um teste molecular (RT-PCR) de qualidade, nacional, capaz de diagnosticar a presença do vírus nas pessoas portadoras, sintomáticas ou não. Esse primeiro passo foi alcançado já no mês de fevereiro, quando o teste Fiocruz/IBMP foi usado para a contraprova do primeiro caso registrado no Brasil, em 27 de fevereiro. De lá para cá a Fiocruz forneceu ao Ministério da Saúde mais de 5 milhões de testes, sendo 2,2 milhões produzidos no IBMP, em Curitiba.

Em abril, mediante importante apoio da Fiocruz e em parceria com a Secretaria de Saúde do Paraná e com o Lacen-PR, o IBMP começou a apoiar o programa de testagem RT-PCR no estado, abrindo uma Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19. Associada a acertada iniciativa do governo estadual, a testagem no Paraná começou uma curva ascendente, de modo coordenado entre as secretarias municipais de saúde, as regionais de saúde da secretaria estadual e coordenação do Lacen-PR e a própria Secretaria de Estado da Saúde.

Já em maio o IBMP estava pronto para analisar até 5 mil amostras RT-PCR por dia, multiplicando em várias vezes a capacidade de análise laboratorial do estado. Uma importante rede logística foi montada, cobrindo todos os municípios, capaz de entregar em Curitiba (Lacen e IBMP) as amostras coletadas. A ação coordenada pelo Lacen-PR e Secretaria de Saúde, mais uma vez com apoio do IBMP, tratou de suprir todos os municípios do estado com kits de coleta (swabs e tubos) para realizar os testes. A operação alcançou sucesso. Em julho, o IBMP atingiu sua capacidade máxima de análise, chegando a haver dias em que recebeu e analisou mais de 6 mil amostras por dia.

O Paraná passou a ser um dos estados que mais testa RT-PCR no país – provavelmente, o que mais testa em relação à população. Estima-se que o Paraná tenha testado um porcentual acima de 4% de toda a população. A média do país alcança 2%. Ainda a destacar que no Paraná a imensa maioria das análises é realizada pelo SUS diretamente, enquanto no país as análises em laboratórios particulares somam 50%. Reino Unido, Espanha, Estados Unidos, Rússia e Bélgica testaram mais de 10% da população; Peru e Chile chegaram a 6%. A China fez mais de 90 milhões de testes, que alcançaram 6% da população. E todos seguem testando.

Ainda é preciso testar mais e mais. Estamos longe de controlar o vírus. Testar, isolar os casos positivos, testar os contatos, usar máscara, respeitar o distanciamento social e reforçar hábitos de higiene são nossas “vacinas” de hoje.

O principal teste que identifica realmente a presença do vírus é o RT-PCR, realizado com cotonetes (swabs) para colher material das narinas e da garganta, locais em que o vírus se aloja nas pessoas infectadas, tenham ou não sintomas. O teste RT-PCR não pode ser confundido com os “testes rápidos”, realizados em cerca de 20 minutos, que se propõem a detectar anticorpos contra o vírus. São testes indiretos: se houve produção de anticorpos, é porque ocorreu infecção no passado. Quando? Não é possível saber; pode ter sido há 20, 30 dias ou dois meses. Não servem para diagnosticar a Covid-19 nos doentes, nem para identificar portadores assintomáticos.

Os “testes rápidos” podem causar mais confusão do que ajudar, especialmente se interpretados inadequadamente, principalmente quando se fala em diagnóstico da fase aguda da infecção e do efetivo momento de controle. No mercado há dezenas de kits de procedências variadas, muitos dos quais não passaram por avaliação técnica. Como consequência, são frequentes os “falsos negativos” e “falsos positivos”, isto é, resultados negativos em quem já teve a infecção e positivos em quem nunca entrou em contato com o vírus, respectivamente.

A testagem RT-PCR em massa está em busca das pessoas positivas, sintomáticas ou não, para promover o seu isolamento e identificar todos os contatos delas nos últimos dias, para também isolá-los se estiverem infectados. Para cada teste positivo devem ser testados 10, até 20 contatos, porque para cada pessoa com RT-PCR positivo várias outras devem estar infectadas, não testadas e não sintomáticas, e que podem seguir transmitindo o vírus.

No mês de junho, do total de testes RT-PCR no Paraná, em média mais de 30% foram positivos. A curva de casos positivos e óbitos estava em clara ascensão. Seguiu assim em julho. Diferente do país, a pandemia no Paraná não se apresenta com tendência a um platô elevado e sustentado. Os dados de agosto parecem indicar que o pico da curva teria passado, com a média móvel em declínio para casos novos e em especial para óbitos. A testagem em maior escala cumpre seu papel, com as medidas de isolamento, máscaras, cuidados de higiene pessoal e em ambientes.

Em agosto, a positividade dos testes decresce para médias abaixo de 25%. Registre-se que ainda é alta. Ela precisa decrescer a cada semana, mantida a testagem em grandes proporções. Ter segurança de que a curva de casos novos no Paraná vai baixar de forma contundente impõe seguir testando e testar ainda mais. O objetivo pode ser colocar o índice de testes positivos abaixo de 5%. Esse porcentual pode ser alcançado com a combinação de duas variáveis principais: manter a testagem em grandes números por dia e aumentar o controle sobre os casos positivos com isolamento precoce, isto é, reduzir ainda mais a capacidade de o vírus passar de um indivíduo ao outro. Claro, se todas as demais medidas conhecidas forem mantidas igualmente.

A vacina ainda não tem data! Há iniciativas promissoras em curso sobre uma potencial vacina a ser usada no Brasil, com destaque para aquelas em desenvolvimento pela empresa AstraZeneca, e que será produzida pela Fiocruz, e outra pela empresa Sinovac, a ser produzida pelo Butantã. Mas não vamos nos iludir nem atenuar os esforços de testagem e controle, são muitos meses ainda pela frente!

Pedro R. Barbosa é presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).

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