• Carregando...
 | Ricardo Stuckert/Fotos Públicas
| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

Antes de tudo, importante destacar que não vai aqui qualquer tentativa de avaliação da qualidade ou boa intenção de candidato prestes a ocupar o cargo máximo do Executivo no Brasil. Na verdade, tratar-se-á, seja qual for a escolha, de mais um manifestamente “bem-intencionado”, amarrado pelo Congresso e amedrontado pelo MP e Judiciário, com pouquíssimo espaço para as manobras radicais propostas em campanha.

Fato é que, ao que tudo indica, temos no horizonte a eleição de uma figura que podemos definir como uma “teratogênese da politicagem”. O termo “teratogênese” se refere, na biologia, a uma modificação anômala criada a partir de traumas, consumo de substâncias nocivas ou misturas entre espécies próximas.

As primeiras contrações indicam que está pronto para nascer aquele que, por muitos, é visto como um perigo à própria democracia

Quando reingressamos como nação na atmosfera da democracia, no fim dos anos 80, um grupo hegemônico de velhos políticos – da então reconhecida “direita” – já estava de plantão, pronto para acasalar com a nova onda de representantes de “esquerda”. Surge, então, a amálgama de partidos que se sucederam no Poder Executivo e dominaram o Legislativo por mais de duas décadas, durante as quais se locupletaram no poder, corroendo, batendo e traumatizando nossa recém-renascida democracia.

Tantos traumas, misturas (coligações perigosas) e drogas colocadas no poder em sucessivas eleições protagonizadas por nós, sempre orgulhosos cidadãos brasileiros, gestaram o que aí está. Muitas crias associadas à emergente legenda já conseguiram guindar-se a cadeiras dentro do Congresso Nacional no primeiro turno. Agora, as primeiras contrações indicam que está pronto para nascer aquele que, por muitos, é visto como um perigo à própria democracia.

Leia também: As eleições e a importância do diálogo (editorial de 7 de outubro de 2018)

Leia também: O crepúsculo de FHC (artigo de Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr., publicado em 15 de outubro de 2018)

Como disse, não vai aqui qualquer avaliação ou posicionamento partidário, mas uma simples constatação: se alguém, candidato ou eleitor, se puser a reclamar do resultado do segundo turno nesta histórica eleição presidencial, antes deve reconhecer que uma anomalia – ou teratogênese política – não surge do nada, ou por obra de Deus, com quem algumas coligações se arvoram associar. Ela surge do laborioso trabalho dos próprios oponentes políticos que, ao alcançarem o poder, abusaram da luxúria e da soberba, entendendo que, mesmo usurpando escrachadamente o ambiente público, jamais sofreriam qualquer revés.

Ao que tudo indica, enganaram-se redondamente, e em breve terão de conviver e beijar a mão da nova criatura que gestaram em suas próprias entranhas!

Tom Grando, biólogo, é especialista em Políticas Públicas pela Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid).
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]