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The end is coming: Como o Netflix está com os dias contados (como conhecemos)
| Foto: Pixabay

Se o Netflix fizesse um longa-metragem sobre a sua própria trajetória, daria um excelente filme para a própria plataforma: nasceu como um delivery de DVDs, que mudou a sua atividade para assinatura de streaming, chegou a ser ofertado para o maior concorrente (Blockbuster) e recusado – só para depois de cinco anos quebrá-lo espetacularmente. E construir um dos maiores negócios dos últimos anos, uma referência a ser estudada no mundo todo.

Mas… Como em todo filme de suspense, tem o momento que o herói enfrenta novos adversários. Não raro maiores e mais estruturados. E este momento chegou para a outrora startup de Reed Hastings.

Para o ano de 2020, teremos os seguintes concorrentes para o Netflix: Apple, Facebook, Amazon, Disney/Fox e HBO – isso para citar somente nos Estados Unidos. Fazendo uma breve análise destas empresas: todas têm receitas além do streaminggadgets, mídia, assinaturas de outros serviços, parques, merchandising; algumas, como Disney/Fox e HBO, têm décadas de conteúdo prontas para disponibilizar; outras, como Apple e Amazon, têm forte caixa para construir conteúdo (a Apple já se disponibilizou a colocar US$ 1 bilhão em conteúdo até 2020 em produção própria); todas podem se dar ao luxo de terem prejuízo na operação para obter mais usuários no curto prazo: a Disney já avisou que colocará seu serviço no ar em novembro com 20% de desconto em relação ao preço-base de mercado (leia-se o preço da Netflix); e, por fim, a Disney tem outra vantagem: tem conteúdo esportivo, ao vivo e gravado, graças às sinergias da fusão entre ESPN e Fox Sports.

No segmento de tecnologia, mover-se na hora certa determina a sua sobrevida

Olhamos o lado dos concorrentes. Agora vamos para o ponto do “ringue” onde está a Netflix. Veja como a situação não é exatamente a mais fácil: O número de assinantes cresce, mas em ritmo reduzido frente a trimestres anteriores; a empresa continua não gerando lucro, o que não seria um problema no caso de uma startup, mas estamos falando de uma empresa com ações em bolsa; o custo de novos investimentos (Capex) em séries e produções próprias tende a aumentar muito com a concorrência – ao mesmo tempo em que não existem dois Kevin Spacey, os melhores roteiristas, câmeras e produtores terão seus passes inflacionados em Hollywood; o bolso do consumidor e seu tempo são somente um e, neste caso, não cabe assinar vários serviços de streaming porque faltará horário para tanta programação, ficando aquele que tem melhor serviço (conteúdo) e/ou menor custo.

O valor de mercado da Netflix continua subindo, mas também em ritmo menor em relação ao seu histórico – hoje estamos falando de uma operação em torno de US$ 120 bilhões. Com tamanha concorrência, aumenta a quantidade de analistas de mercado apontando que o cenário ideal para a plataforma é uma fusão com algum competidor – no início do ano, havia quem desse 30% de chance de que a Apple faria este movimento, até por ter caixa de sobra para tal (US$ 500 bilhões).

Mas não é perfil da Apple comprar empresas multibilionárias – a maior operação que fez até hoje foi a compra da Beats (por causa da plataforma de música que virou a Apple Music) por US$ 3 bilhões. No entanto, para uma Amazon ou Facebook – empresas que gostam muito do conceito de liderança destacada de categoria –, talvez faça sentido. A primeira tem 30% do varejo on-line dos EUA e o vídeo seria uma ótima forma de propagar seus produtos. A segunda praticamente tem o controle do fluxo de mensagens pessoais do mundo ocidental por meio da dupla WhatsApp/Instagram, em que muito conteúdo em vídeo é compartilhado.

No segmento de tecnologia, mover-se na hora certa determina a sua sobrevida, sair como herói ou sumir como uma história que teve o seu tempo – como foi o caso do Yahoo! recentemente. O Netflix sozinho dificilmente conseguirá ter munição para vencer de forma sustentável tais concorrentes. Uma aliança estratégia ou uma mudança no modelo de negócio pode ser a melhor saída. Que pode ser até mesmo a venda do negócio. Seria uma pena que uma grande história como esta tenha um final sem graça como alguns dos seriados dos seus concorrentes. Não seria Netflix.

João Gabriel Chebante é CEO da Sucellos.

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