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| Foto: Jim Watson/AFP

Uma declaração polêmica do presidente Donald Trump surpreendeu os repórteres na Casa Branca. “Eu preciso que as pessoas venham aos Estados Unidos para administrar fábricas, gerenciar empresas e atuar nas indústrias que estão voltando ao nosso país. Nós precisamos de pessoas”, afirmou o chefe de Estado que ficou famoso por endurecer as normas imigratórias nos EUA.

Muito além do espanto causado pela afirmação – totalmente contrária às duras medidas empreendidas no sistema imigratório ao longo dos dois anos de governo –, a declaração de Trump revela o perfil de imigrantes que o presidente pode estar interessado em seguir atraindo para os Estados Unidos.

Seguindo o movimento de internacionalização de empresas, iniciado em meados da década de 1990, vivemos agora – e não apenas nos Estados Unidos – um movimento semelhante, porém, da mão de obra dessas empresas que ultrapassaram fronteiras e foram se estabelecer em outros países. Nos EUA, já é possível ver profissionais japoneses trabalhando em Manhattan, engenheiros canadenses atuando na Flórida e brasileiros com qualificação profissional excelente atuando em cargos de alto comando em empresas americanas.

Trump sabe que precisará de mão de obra qualificada para garantir o pleno funcionamento da maior economia do mundo

Este fenômeno encontra base na oferta de vistos de habilidades extraordinárias e profissionais (EB1-A e EB-2, entre outros) pelos EUA, que premiam com o documento de residência permanente (o Green Card) profissionais com carreiras excelentes e com alto nível técnico. Profissionais de engenharia, arquitetura, TI, áreas da saúde, dança, teatro, arte, gestores de grandes empresas, atletas, entre várias outras áreas, podem submeter seus currículos ao crivo de análise do governo americano e entrar nos EUA pela porta da frente. Esta é uma saída pela qual cada vez mais brasileiros estão optando para internacionalizar suas carreiras.

Como um profissional brasileiro que viveu essa experiência, posso assegurar que Trump, muito embora tenha dificultado o sistema imigratório americano, não fechou as portas para aplicantes desta modalidade de visto que ficou conhecido como “Visto Einstein”. Ao contrário, com a menor taxa de desemprego nos EUA dos últimos 50 anos, Trump sabe que precisará de mão de obra qualificada para garantir o pleno funcionamento da maior economia do mundo.

Leia também: Trump ainda acha que sua política anti-imigração é vencedora (artigo de Matt A. Barreto, publicado em 23 de dezembro de 2018)

Leia também: Os EUA precisam de mais imigrantes, não menos (artigo de Shikha Dalmia, publicado em 20 de janeiro de 2019)

Não é por outra razão que este novo perfil de imigrantes encontra na terra do Tio Sam a possibilidade de estabelecer sua vida e carreira. Este novo imigrante não está disposto a abandonar os anos de trabalho, estudo e investimentos realizados no Brasil para “começar do zero” uma vida nos EUA. Trata-se agora de brasileiros que querem expandir seus termos profissionais e viver uma experiência internacional vantajosa, não apenas do ponto de vista financeiro.

Seguramente, o que Trump deixa claro em sua afirmação é que haverá cada vez menos espaço para imigrantes que violem as intenções de seus vistos (indo aos EUA para trabalhar com vistos de turista e estudante, por exemplo) e mais espaço para quem planeja uma imigração legal, com suporte jurídico qualificado e especializado nas leis americanas. É este o perfil de imigrante para o qual Donald Trump quer abrir as portas dos Estados Unidos.

Rodrigo Lins, mestre em Comunicação, professor universitário, jornalista e escritor, reside nos Estados Unidos e é autor de “Internacionalize-se: Parâmetros para levar a carreira profissional aos EUA”.
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