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| Foto: Kiyoshi Ota/AFP

A liberdade comercial e a abertura econômica dos países é importante para o crescimento econômico do mundo e responsável pela espetacular redução da pobreza observada nas últimas décadas.

Porém, recentemente alguns países importantes parecem estar repensando essas políticas e começando a se fechar para se proteger do mercado internacional e sua grande competitividade. Em especial o presidente americano Donald Trump é visto como proponente dessa guinada protecionista.

Recentemente Trump iniciou uma guerra comercial com a China em defesa do aço americano, isso afetou não apenas a China mas muitos outros países que exportam aos americanos, como o Brasil. Será Trump apenas um protecionista dentro do Partido Republicano americano?

A situação comercial entre EUA e China é muito mais complexa do que aparenta. De fato, os EUA têm gigantescos déficits comercias com a China que aumentam a cada ano. Porém, déficits comerciais não são necessariamente algo ruim, se um país está importando bastante significa que sua população está tendo acesso a mais bens de consumo e, portanto, desfrutando de um padrão de vida melhor. Além disso, os EUA não precisam exportar os bens que os chineses exportam, já que os americanos dominam a alta tecnologia, enquanto os Chineses possuem as fábricas e a mão de obra.

Mas aí encontra-se o primeiro problema. As empresas americanas (e de outros países de primeiro mundo) detêm tecnologia e utilizam a China para produzir seus bens de forma barata. Porém, com a bênção do Partido Comunista Chinês(PCC), a tecnologia e as patentes são roubadas, violando, portanto, a propriedade intelectual.

É quase impossível estimar com precisão o quanto os EUA perdem anualmente com a violação de sua propriedade intelectual na China

No início a China obrigou os ocidentais que queriam se instalar no país a utilizarem empresas locais para a produção e a compartilhar parte da tecnologia. Pareceu um grande negócio, afinal seria apenas compartilhar a capacidade produtiva com os chineses em troca de mão de obra extremamente barata e bons canais de escoamento da produção.

Com o passar do tempo mais empresas se instalaram na China e as atividades produtivas foram ganhando complexidade, desenvolvimento tecnológico passou a ser feito dentro daquele país. Sob a guarda do PCC cada vez mais ficou clara a falta de direitos de propriedade intelectual na China. É quase impossível estimar com precisão o quanto os EUA perdem anualmente com a violação de sua propriedade intelectual na China, mas os números podem passar de US$ 500 bilhões segundo alguns cálculos.

A OMC tenta garantir um comercio livre e justo entre as nações e assegurar que as economias pequenas possam se proteger das grandes até que se desenvolvam.

Para isso algumas diretrizes da OMC permitem que países em desenvolvimento possam proteger indústrias nascentes com tarifas contra estrangeiros, que os países desenvolvidos não podem aplicar.

Eis aí a discussão: a China é um país desenvolvido ou em desenvolvimento?

Leia também: Como preparar a renascença diplomática na era pós-Trump (artigo de Nicholas Kralev, publicado em 22 de abril de 2018)

Opinião da Gazeta: A guerra comercial entre EUA e China (editorial de 18 de abril de 2018)

A China é, no mínimo, complicada. Apesar de ser a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA, ela continua sendo um país relativamente pobre. Apenas hoje, após 4 décadas de forte crescimento, o PIB per capita chinês está encostando no brasileiro. Brasil, esse que unanimemente é considerado um país em desenvolvimento. Porém a economia chinesa rivaliza com as maiores do mundo, influencia o mercado global, possui mais cidadãos ricos do que a população inteira da Inglaterra (ricos e pobres), e apesar disso tudo é tratada pela OMC como um país em desenvolvimento. A organização não possui um critério claro do que é um país desenvolvido e o que é um país em desenvolvimento, deixando assim margem para interpretações. Graças a essa falta de clareza, mesmo sendo uma das economias mais influentes do mundo a China é tratada no comercio internacional no mesmo patamar que Brasil, México ou Botswana.

Os objetivos do presidente americano não aparentam ser apenas proteger os EUA do aço chinês. Alguns estudos mostram que o número de empregos gerados pelas empresas americanas que se beneficiam do aço barato importado é maior e mais bem pagos do que os empregos gerados pelas siderúrgicas americanas. Os objetivos parecem ser uma mudança de postura em relação ao comercio internacional e da visão que o mundo, em especial a OMC, tem da China.

A China não pode mais ser tratada diferente das grandes economias, ela precisa jogar obedecendo as mesmas regras que todos os outros

A China não pode mais ser tratada diferente das grandes economias, ela precisa jogar obedecendo as mesmas regras que todos os outros. Não faz sentido a China poder impor sanções a empresas americanas e ao mesmo tempo exigir que os americanos não façam o mesmo. Assim como não faz sentido a violação da propriedade intelectual em território chinês sem punição exemplar.

Fechar-se comercialmente é sempre ruim para os países, economias abertas favorecem o comercio internacional e o progresso e a China está aproveitando sua situação para desestabilizar esse jogo. Sem utilizar os mecanismos de mercado, o PCC está tentando controlar o mercado internacional e o EUA estão cientes disso e foram à luta.

Caso Trump demonstre que sua intenção é apenas proteger os EUA e não mudar a postura chinesa, então ele estará sendo tão antiprogresso quanto Xi Jinping. Porém, se o presidente americano conseguir forçar a China a mudar a maneira como atua no comercio internacional, o mundo inteiro se beneficiará de um cenário mais equilibrado para os negócios.

José Roberto Baschiera Junior é empresário no ramo de câmbio e acadêmico do curso de Economia.
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