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 | Henry Milleo/Gazeta do Povo
| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Se tem uma coisa que a Copa do Mundo 2018 (e outros eventos esportivos) demonstrou é que a experiência do usuário é determinante para o sucesso de qualquer emissora ou produtora de conteúdo. Aqueles que assistiram aos jogos pela tevê a cabo ou via streaming puderam perceber claramente o atraso na transmissão, quando seus vizinhos que acompanhavam a mesma partida pela tevê aberta ou pelo rádio gritavam “gol” bem antes. Durante a competição, vários vídeos circularam nas redes sociais mostrando a diferença – que chegava a 40 segundos em alguns casos –, o que prova que um atraso na transmissão de eventos esportivos em tempo real, ainda que pequeno, pode acabar com a graça de quem assiste.

A razão desse delay já é bem conhecida: o caminho do sinal, desde a captura da imagem até a recepção do usuário final, é maior pela tevê a cabo do que pela tevê aberta (e maior ainda via streaming). Mas qual seria a alternativa, então? Muitos saíram comprando antenas durante a Copa, o que com certeza não é solução ideal (para aqueles que investiram em televisores de alta definição ou 4K em busca de qualidade, definitivamente não é). Na verdade, a solução para reduzir esse atraso existe, sim – se chama interconexão. O usuário final pode exigir que seu provedor de internet seja bem interconectado para gastar menos “saltos” para atingir o conteúdo.

A solução para reduzir esse atraso existe, sim – se chama interconexão

A plataforma atual dessas empresas ainda é arquitetada em torno de uma tecnologia tradicional e de redes centralizadas para a recepção e distribuição de mídia. As emissoras recebem a transmissão de um jogo do outro lado do mundo, levam os dados para suas sedes cada uma de um jeito (geralmente, pelo caminho da internet pública), e depois distribuem para os assinantes, seja por fibra ótica ou satélite. Esse modelo fixo em silos de criação, armazenamento e distribuição já não comporta mais o volume de dados, o crescimento dos negócios em escala global e a velocidade de transmissão exigida hoje em dia, sendo, ainda, muito custoso, rígido e restritivo.

Já a interconexão permite que a troca de dados seja feita diretamente entre as companhias de mídia digital, sem passar necessariamente pela internet. Ao conectar de modo privado vários data centers espalhados pelo globo, a interconexão cria uma espécie de “rodovia privada” aberta só para essas empresas, um caminho menos congestionado e muito mais rápido que a “rodovia pública” da internet. Até 2020, a previsão é de que a interconexão entre as empresas cresça em média 62% ao ano na América Latina, chegando a um volume de 626 Tbps em dados. Apenas no setor de mídia e entretenimento da região, esse número deve chegar a 96 Tbps.

Em um nível básico, a interconexão entre data centers ajuda a garantir que o fluxo de vídeo em tempo real seja entregue sem falhas. No caso da Copa da Rússia, por exemplo, a transmissão teria a velocidade e a baixa latência necessárias para garantir a melhor experiência de visualização possível (ou seja, com qualidade de imagem e sem atraso). Com uma plataforma interconectada, as empresas de conteúdo e mídia digital podem escalar rápida e facilmente suas produções, conectar-se de forma privada com parceiros de entrega de conteúdo e criar produtos inovadores e customizados para o usuário final, gerando novas receitas e novas formas de consumo de mídia.

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Um exemplo é a Discovery Communications. A companhia implementou uma arquitetura já orientada à interconexão, que a permitiu transformar seu negócio em um modelo distribuído e totalmente baseado em nuvem. Colocando a sua infraestrutura de TI em data centers interconectados em Ashburn, Londres e Paris, a Discovery consolidou 80% de sua plataforma, otimizando a entrega de conteúdo mundial e acelerando a entrega de produtos em tempo real. A ideia é atender à demanda de consumo advinda da transmissão dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020.

Já aqui no Brasil, o movimento de adoção da interconexão pelo setor de mídia e entretenimento não tem caminhado tão rápido assim. Contudo, as empresas já se atentaram para sua importância, principalmente no que tange à possibilidade de inovar e gerar novas fontes de receita. Quem sabe agora, com a experiência do usuário tão em evidência, as emissoras e produtoras de conteúdo brasileiras não decidam dar o passo final, já se preparando para os próximos grandes eventos esportivos e se tornando companhias verdadeiramente globais.

Wellington Lordelo é gerente de Solution Marketing da Equinix Brasil.
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