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Andrew Carnegie foi um dos primeiros grandes filantropos americanos e doou 90% da sua fortuna – o equivalente a US$ 4,76 bilhões em 2014. Em 1889, escreveu O Evangelho da Riqueza, convocando os ricos a utilizarem a sua riqueza para melhorar a sociedade. Com isso, inspirou gerações de filantropos, incluindo Bill Gates e Warren Buffet.

A leitura do artigo original é uma viagem interessante a um mundo em que o comunismo ainda era apenas uma ideia acadêmica. Ao escrever O Evangelho da Riqueza, Carnegie se propôs a apresentar uma alternativa ao evangelho de Jesus Cristo, que preconiza que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus. Ele convocava os milionários a utilizar suas fortunas para deixar o mundo um pouco melhor e, assim, não encontrariam barreiras impedindo que entrassem no paraíso.

Para Andrew Carnegie, o homem que morre rico morre desgraçado

Carnegie acreditava que o comunismo, ao preconizar que o homem deve trabalhar em prol de sua comunidade e não para acumular capital, ia contra um dos princípios da raça humana, que é o individualismo. Pragmático, Carnegie sugeriu que a gestão da riqueza fosse feita considerando a natureza individualista da humanidade e as leis que regem o capitalismo, que fazem com que a riqueza se acumule nas mãos de poucos – nada mais atual, considerando que a Oxfam publicou um estudo em janeiro deste ano segundo o qual 62 pessoas têm a mesma fortuna que metade da população mundial.

No caso de grandes fortunas, Carnegie considerava a herança uma forma de afeição enganadora, pois pode se tornar uma praga para os herdeiros. Muitas vezes, afirmou, as heranças são inspiradas mais pelo sentimento de orgulho familiar do que pela preocupação com o bem-estar dos herdeiros. Ele era um grande defensor do imposto progressivo sobre heranças. Acreditava que esse imposto marcaria a condenação do Estado em relação à vida egoísta e indigna dos milionários, sendo um grande estimulador de uma melhor gestão da riqueza durante a vida do seu detentor. Defendia que o imposto seria um método muito mais eficaz do que o comunismo, porque não vai contra o individualismo, e seria um verdadeiro antídoto para a desigualdade de distribuição de riqueza.

Grande defensor da filantropia estratégica, Carnegie falava também sobre os perigos da caridade indiscriminada. Acreditava que 95% do dinheiro doado para caridade era utilizado de forma imprudente e acabava criando os males que queria mitigar ou curar. Acreditava na meritocracia e defendia que devem ser ajudados aqueles que se esforçam para mudar a própria realidade. Carnegie finaliza seu Evangelho da Riqueza dizendo que o homem que morre rico morre desgraçado.

Mathew Bishop e Michael Green, autores de Philantrocapitalism, acreditam que Carnegie estava certo: aqueles que se beneficiam da prosperidade econômica têm o dever de usar o seu dinheiro e talento para tornar o mundo melhor. Mas eles reconhecem que muitos dos bilionários atuais estão inertes e não possuem o poder ou legitimidade suficiente para atuarem sozinhos.

Por isso, eles sugerem que seja feita uma atualização do “Evangelho da Riqueza” e propõem um novo contrato social, com uma divisão de trabalho para a solução de problemas sociais em que filantropos, empresas, governos, organizações da sociedade civil e cidadãos formem parcerias em que cada um atue na área em que seja mais efetivo. Em tal divisão de trabalhos, os filantropos podem ficar responsáveis pelos investimentos sociais mais arriscados e que requerem estratégias de longo prazo.

Patricia Valente Haj Mussi, advogada, é fundadora do Instituto Ajuda Paraná, gestora de investimentos sociais que auxilia empresas e famílias a apoiarem as melhores iniciativas sociais do Estado.
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