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Como o voto é um aval ao bom e também ao mau político, o eleitor precisa ter consciência de que pode contribuir para pôr fim ou ao menos reduzir a profusão de escândalos

Nunca se falou tanto em ética no Brasil como nos últimos tempos, isso porque talvez esse preceito nunca tenha sido tão relegado como agora. O que é fácil de se comprovar, tal a profusão de péssimos exemplos, notadamente na vida pública, que se refletem na postura das nossas instituições. Talvez por isso, lembramos, com frequência, a crise institucional que se instalou no país, motivada por desvios agudos de conduta, que, mesmo em diagnóstico apressado, é possível constatar já se tornou um problema crônico. E isso preocupa muito, por causa do efeito que terá na formação do cidadão, de exemplos a dar aos jovens, tão carentes de esperança, pois são as autoridades as primeiras que devem empunhar a bandeira da ética e da moral.

Contra os interesses do país, prevalece o interesse político ou econômico de grupos que detêm o poder. Conceitos republicanos são descaradamente burlados, pelo recrudescimento do fisiologismo, pela compra escancarada de apoios no Legislativo, reinventando nessas esferas o "escambo", onde a oferta de cargos, a serem generosamente pagos com o dinheiro público, para aprovação de projetos de interesse do governo de plantão, sobrepõe-se aos compromissos assumidos, em público, com o cidadão brasileiro. A lisura, portanto, parece ter sido esquecida nos escaninhos da também relegada "boa conduta".

No entanto, é preciso, com urgência, reinstalar a correição em nossas instituições, ao banir do cotidiano as tentações e práticas da corrupção, em todos os níveis, reinstituindo práticas que reforcem as condutas exemplares. Isso deve começar pelo questionamento dessa absurda tolerância que impera no país pelos desvios éticos na política, por exemplo. A tão reclamada reforma política pode ser um bom início. Mas também é preciso fomentar no cidadão o senso crítico na hora de votar. Como o voto é um aval ao bom e também ao mau político, o eleitor precisa ter consciência de que pode contribuir para pôr fim ou ao menos reduzir a profusão de escândalos. Basta eleger políticos comprometidos com práticas respaldadas nos conceitos republicanos.

Só assim poderemos deixar de tolerar e, principalmente, conviver com a impunidade a tantos escândalos como mensalinhos, mensalões, desvios de recursos públicos, em todas as esferas, caixa dois, quebra de sigilos bancários de pessoas de bem, licitações viciadas, entre tantos outros. E isso implica acentuada renovação no Congresso Nacional, nos Legislativos estaduais e municipais e também na alternância de poder no Executivo. Aliás, as mudanças são salutares para oxigenar esses poderes. Em qualquer país que privilegia a ética, um homem com responsabilidade pública – e quanto mais alto for o cargo que ocupa, maior é sua responsabilidade –, ao se encontrar sob suspeição, não procrastina esclarecimentos. Mais ainda, de pronto, coloca o cargo à disposição. Ao contrário, blindagem da pessoa e tentativa de postergar decisões são práticas que colocam o país longe dos verdadeiros valores democráticos, de cidadania e de respeito à sociedade, em geral.

Por isso lamentamos o que ocorre em nosso país, como no caso do ex-ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, que, acusado e sob suspeição, procrastinou os devidos esclarecimentos. E no último dia 7, Palocci pediu demissão em meio à crise gerada pela explicação nada convincente sobre o fato de seu patrimônio ter aumentado 20 vezes entre 2006 e 2010 e o arquivamento do pedido da oposição de investigação do caso pela Procuradoria-Geral da República. No entanto, mesmo com o desfecho desse imbróglio e a ascensão da competente paranaense Gleisi Hoffmann para a chefia da Casa Civil, esse final feliz não justifica as omissões que deixaram a população sem as informações necessárias sobre o caso.

Um país que tem a pretensão de ser grande começa a sê-lo a partir do momento em que elimina definitivamente ações que confrontam a postura ética de suas instituições, por meio da lisura e transparência na gestão da coisa pública em benefício da Nação. É o que queremos. Do contrário, continuará sendo um simulacro de país desenvolvido, uma República de faz de conta. O que, definitivamente, execramos.

Edson Ramon é presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).

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