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| Foto: Christophe Simon/AFP

Ao longo das últimas décadas e, notadamente, nos últimos anos, levando em conta o conjunto de nossas ações como civilização, tudo leva a crer que seguiremos avançando sobre terreno impróprio. Exceções pontuais e enganosas à parte, um turbilhão de processos sem controle continua a ser a marca registrada do que nós, humanos, definimos e defendemos como desenvolvimento.

Como um veículo rumando sem ninguém na direção, o que vale, no fim das contas, são as regras da economia de mercado. Nosso guia norteador não é representado pelos limites do planeta – nunca foi –, mas pelo que a economia demanda de nós.

No sentido inverso de qualquer coerência e sentido de precaução, a demanda é o que nos norteia, mesmo sem espaço para avançar na exploração da natureza sem que duras consequências sejam estabelecidas. Seguimos cegamente a demanda de mercado, em detrimento da existência de estoques para atender a requisição dos nossos pedidos.

Nosso guia norteador não é representado pelos limites do planeta, mas pelo que a economia demanda

Na visão dos gurus economistas, o padrão que identifica uma “economia saudável” é designado de taxa de crescimento positiva. O Produto Interno Bruto (PIB) é a métrica que estabelece, supostamente, a existência de riqueza ou de pobreza de um país. Nenhum desses fatores leva em conta o meio com o qual esses índices são obtidos, quais são as condições pelas quais insumos são apropriados e de que maneira são utilizados pelo conjunto da população.

Ao mesmo tempo, coletivizamos silenciosamente as variáveis não mensuradas da degradação da natureza e dos prejuízos cada vez mais intensos provocados pela truculência com a qual exploramos o planeta. A perda de resiliência em relação ao montante de alterações que temos realizado de maneira tão agressiva ainda são, em geral, designadas como um efeito secundário e, portanto, não digno de suficiente atenção.

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Uma tentativa de avaliação isenta sobre o melhor diagnóstico que descreva nossas ações – de antemão algo complexo e controverso de se estabelecer – aportará elementos que sustentam, com louvor, um comportamento de idiotia coletiva crônica. Uma incapacidade de tomada de medidas que mudem a direção de uma civilização que considera que a natureza é um bem de uso irrestrito, que as limitações não condizem com as regras de mercado e que os infortúnios ambientais que acarretam prejuízos incalculáveis e cada vez mais significativos são tão somente um desígnio de viés religioso, ou fenômenos esparsos, sem uma razão específica, e que não se repetirão.

Com tantas evidências fáticas de que o caminho é torto e sem um final feliz, há de se estruturar movimentos que busquem efetivamente tornar nossa existência mais consistente com a responsabilidade que temos com as futuras gerações. Humildemente, precisamos nos conscientizar dos limites do planeta que estão sendo grotescamente aviltados. E buscar alegria e felicidade fora das regras estúpidas de uma economia que hoje fala por nós. Que 2018 encadeie luzes de mudanças profundas no nosso comportamento frente à natureza. Mudanças que não são mais apenas uma opção, caso queiramos levar a sério esse tal assunto de “sustentabilidade”.

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e conselheiro do Observatório de Justiça e Conservação (OJC).
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