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De 1985 a 1994 a Kalunga patrocinou o Corinthians. De 1985 a 1994 ninguém da minha família colocou os pés numa loja da Kalunga. Como bons palmeirenses, fizemos nosso boicote ao patrocinador do arquirrival.

O livre mercado, essa coisa tão desprezada e vilipendiada pela esquerda, eleva o cliente a patrão supremo, com base numa regra simples e básica: ninguém é obrigado a comprar o que não quer. E por isso cada cidadão pode fazer e promover o boicote que bem entender.

Prefira as empresas que representam o seu pensamento, as suas preferências, os seus ideais

O recente episódio que ocupou a mídia por vários dias, envolvendo um comercial de O Boticário para o dia dos namorados, traz à tona dois aspectos bastante característicos da linha de pensamento de esquerda: desprezo pela liberdade de expressão e desigualdade de direitos.

Desde que a tropa de choque do politicamente correto começou a ocupar posições de destaque, a liberdade de expressão vem sendo cerceada, e qualquer manifestação contrária ao uso político das minorias para promover a agenda da esquerda é atacada com violência pelos hipócritas que se intitulam defensores da tolerância, mas que não toleram nenhum pensamento contrário ao seu. Em consequência disso são raros, hoje, espaços como este em que escrevo livremente.

Mas o comportamento da esquerda, que gosta de se chamar de progressista, é também o de total desrespeito pela igualdade de direitos. É o comportamento do se-você-faz-é-feio-mas-se-eu-faço-não-é. Boicote de religioso que não concorda com um comercial que faz menção a relacionamentos homossexuais, não pode. Mas boicote aos produtos da grife Dolce & Gabbana por conta da opinião dos estilistas a favor da família tradicional, pode (detalhe: Dolce e Gabbana são gays). Pode também boicote às massas Barilla e à rede de restaurantes Chick-fil-A, pois ambas se posicionaram contra a agenda esquerdista.

Essa mentalidade contamina as pessoas de tal forma que já há minorias desprezadas dentro das minorias. Gays que se declaram de direita, negros que são contra as cotas raciais, pobres que dão uma banana aos programas assistencialistas, são todos difamados e insultados por seus “semelhantes”; afinal, se você faz parte de uma minoria, mas não pensa como um desvalido, você é um pária. Traduzindo: se você se encaixa no estereótipo do vitimizado, mas pensa como um cidadão adulto e responsável, você está errado, é um boçal.

Não é de hoje que a esquerda reivindica o monopólio da virtude, e também não é de hoje que suas contradições são tão descabidas quanto absurdas. A lista de hipócritas é extensa, e inclui milionários pregando o socialismo de cima de suas coberturas tríplex, políticos pregando o desarmamento cercados de seguranças armados, artistas pregando a ecochatice de dentro de jatinhos queimadores de combustível fóssil, músicos pregando o respeito ao conteúdo nacional com os bolsos cheios pela Lei Rouanet, e assim por diante. Essa hipocrisia, que deveria ser enojante, desprezível, acaba encontrando lugar na mente de um povo infantilizado, mergulhado num oceano de vitimismo e falsos direitos.

Termino pedindo: por favor, boicote. Prefira as empresas que representam o seu pensamento, as suas preferências, os seus ideais, e com isso faça girar a máquina extraordinária do livre mercado. E se fulano reclamar do seu boicote, boicote-o também. Boicotemos os chatos e os hipócritas.

Flavio Quintela, escritor, é autor de “Mentiram (e muito) para mim” e coautor de “Mentiram para mim sobre o desarmamento”.
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