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Reafirmando posição já manifestada por este jornal, é necessário maior empenho das autoridades federais diante dos problemas da agropecuária, neste período de passagem para a safra de verão de 2005/06. É que as circunstâncias amplamente favoráveis à produção rural que vigoraram em anos recentes foram modificadas, após a seca que atingiu o Centro-Sul, a redução de preços nos mercados internos e de exportação, além de outros problemas. Pressionados por tais dificuldades, os produtores pleitearam renegociação das dívidas de financiamentos para formação de lavoura. Se as decisões não forem adotadas em tempo oportuno, o país poderá perder essa âncora fundamental para a estabilidade de preços e o abastecimento alimentar.

Lideranças rurais de vários estados estão alertando para o risco de redução da nova safra em preparo, tanto por efeito de diminuição da área plantada quanto pelo menor uso de insumos de tecnologia moderna; à falta de meios por parte dos agricultores. Já na safra passada houve prejuízo de quase 20 milhões de toneladas de grãos, em razão da estiagem que atingiu severamente os estados do Centro-Sul. Com tais perdas, o ânimo dos produtores foi afetado de forma drástica e precisa ser revertido através de medidas de apoio que necessitam ser tomadas a tempo para serem efetivas.

Nesse sentido, o ministro da Agricultura assegurou que, a partir desta semana, deverão ser anunciadas as primeiras medidas de rolagem abrangente das dívidas para produtores com perdas comprovadas. Um primeiro alívio já começou a ser liberado: recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador estão sendo repassados pelo Banco do Brasil para cobrir compromissos tomados por agricultores em financiamento de máquinas agrícolas, no Rio Grande do Sul. Nesse estado as perdas com a seca foram as maiores do país, atingindo no verão passado até 75% das lavouras de soja e milho. No Paraná, os prejuízos giram em torno de 25%, enquanto Mato Grosso e outros estados do Centro-Oeste carregam efeitos mais suaves, com quebra de 15% da safra de verão.

Já na safra de trigo que está em finalização, como cultura de inverno, a redução prevista é de 25%, devido a uma área menor de plantio e tratos culturais mais modestos, com uma colheita estimada em 4 milhões de toneladas entre Paraná e Rio Grande do Sul, que cobrem 95% da produção brasileira. Para a próxima safra de soja, o governador Blairo Maggi, produtor no Mato Grosso, diz acreditar em queda de 20% – devido aos mesmos fatores.

De fato, a compra de insumos como sementes e fertilizantes está atrasada, assinalando resistência dos agricultores aos adiamentos de solução para as dívidas anteriores antes do anúncio do plano de safra. Com esse panorama, a colheita em formação dificilmente vai superar os 113 milhões de toneladas do ciclo anterior, quando o Brasil tem potencial para colher até 150 milhões de toneladas de grãos.

Não bastassem os problemas da agricultura, a pecuária também enfrenta retração de preços, com a cotação do boi gordo recuando para o menor preço em mais de dez anos, segundo levantamento técnico. Embora as exportações do setor de carnes continuem carreando saldos crescentes para o país, os especialistas alertam que o panorama é sério: a média de abate de fêmeas subiu de 23% para mais de 40% –, o que compromete a produção de bezerros. Além disso, com preços gravosos, os pecuaristas tendem a abandonar processos modernos de criação, como rastreamento dos animais, confinamento do rebanho, etc.

O cenário agrícola se salva pela expansão das vendas de suco de laranja, com embarques de 1,4 milhão de toneladas e da produção de álcool, com mercado crescente no exterior em função de novos padrões ambientais.

O cuidado com o conjunto do agronegócio, contudo, é fundamental, por sua relevância para a geração de saldos comerciais, estabilidade de preços, garantia alimentar e geração de renda que confere dinamismo econômico ao hinterland brasileiro.

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