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Quem estuda mais tempo aprende mais. Essa afirmação parece óbvia, mas, entre os educadores brasileiros, alguns a questionam

Em relação à busca do desenvolvimento econômico e social há consenso mundial tanto sobre o diagnóstico da pobreza como sobre o caminho do progresso. Sabe-se que a melhoria do bem-estar social não depende de riquezas naturais e que o ponto central e essencial do progresso é o nível da educação da população. O caminho para superar a pobreza é a educação de qualidade, o domínio das tecnologias e a capacidade de empreender e inovar.

Todos os países que apresentam elevado grau de desenvolvimento e alto padrão de bem-estar social somente conseguiram prosperar porque possuem um sistema educacional eficiente, deram prioridade ao ensino de Ciências e Tecnologias e garantem a todos os seus habitantes o acesso à escola. O fato de o mundo ter descoberto que a melhoria do bem-estar dos povos está mais no domínio da ciência, das tecnologias e dos processos de produção que na existência de riquezas naturais – aliado ao fato de que o conhecimento e a tecnologia mudam e evoluem com rapidez – transformou a educação como elemento central do desenvolvimento.

No caso da América Latina, o desafio maior é que não basta melhorar seus sistemas educacionais; é preciso também mudar as prioridades na educação. Esses países necessitam direcionar seus recursos escassos prioritariamente para o ensino de Ciências Exatas e Tecnológicas, e menos para as Ciências Humanas. Um exemplo negativo é o caso da Argentina, onde o número de alunos de Filosofia, História, Psicologia e Ciências Sociais é três vezes maior do que o número de alunos que fazem Engenharia e Ciências da Informação e da Computação.

No caso brasileiro, também há uma inversão de prioridade: privilegia-se o ensino de Ciências Humanas no orçamento público, sobrando pouco para a área de Exatas e Tecnológicas. Não se trata de menosprezar a área de Humanas, mas o país precisa mais de engenheiros e técnicos que de filósofos e historiadores. Outra distorção é a destinação de mais de 60% do orçamento do Ministério da Educação para o nível universitário, em detrimento da educação de base.

Também é consenso mundial que quanto maior a escolaridade média, maiores são as chances de desvencilhar-se da pobreza. Os países que se saem melhor nos testes educacionais internacionais são aqueles em que os alunos estudam mais tempo durante o dia, mais dias durante o ano e têm mais anos de estudo. Trata-se uma constatação simples: quem estuda mais tempo aprende mais. Essa afirmação parece óbvia, mas, entre os educadores brasileiros, alguns a questionam, pois acreditam que carregar a criança e o adolescente com mais carga de estudo nem sempre melhora o nível de aprendizagem.

Apesar de não haver muita dúvida a respeito do papel decisivo desempenhado pela educação no crescimento econômico e no bem-estar social, o Brasil não apresenta um sistema educacional de qualidade e continua relegando esse setor a um plano secundário na definição das prioridades nacionais. Um exemplo do descaso com a educação básica é o salário médio dos professores da rede pública, reconhecidamente baixo.

O governo acaba de reconhecer a falência do ensino médio – tanto que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, veio a público afirmar a necessidade de reformular totalmente o currículo desse nível de ensino. Segundo o ministro, há colégios com 19 disciplinas distribuídas pelos três anos desse nível de ensino, praticamente inviabilizando qualquer grau elevado de aprendizagem. Outro problema é que os conteúdos são voltados para a aprovação do aluno no vestibular, fazendo o ensino médio refém do tipo de vestibular realizado pelas universidades públicas, perdendo, assim, qualquer identidade própria.

O choque de educação de que o Brasil precisa passa por algumas medidas conhecidas: alocar os recursos públicos prioritariamente para a educação básica; reformular o currículo do ensino médio; valorizar os professores; ampliar o ensino superior público na área de Ciências Exatas e Tecnológicas; aumentar os gastos com pesquisa e inovação; e melhorar os sistemas de avaliação. Todavia, um choque educacional somente será possível quando todos, sociedade, empresas e governo entenderem que a educação deve ser a prioridade máxima caso o país queira fazer parte do clube dos países desenvolvidos.

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