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Poucas confissões causam mais espanto hoje em dia do que afirmar-se monarquista. É mais fácil para um jovem hodierno dizer aos pais que tem 12 identidades sexuais ativas e passivas do que observar num almoço de domingo, entre uma garfada e outra, a supremacia da monarquia. E, se elogiar o imperador dom Pedro II, corre o risco de ser ridicularizado ou, pior, tornar-se persona non grata para o dominical macarrão com frango.

Quando digo que sou monarquista, a seguir ao estupor e eventuais desmaios, sou alvejado por olhares de comiseração, escárnio ou lamento, a depender da classe econômica e do grau de escolaridade. Quanto mais altos a renda e o grau de escolaridade, maior é a desconfiança em relação à minha sanidade mental.

Em Portugal, pelo menos até a década de 1980, como nos informa o genial escritor Miguel Esteves Cardoso em crônica antiga publicada em A Causa das Coisas, “alguns magros milhões de portugueses” eram “dubitavelmente monárquicos”. O problema é que, imersos no dubitável, eram monarquistas inúteis à causa porque, quando puderam optar, votaram na república, transformando-se “tragicamente em republicanos úteis”.

É mais fácil para um jovem dizer aos pais que tem 12 identidades sexuais do que se declarar monarquista

No Brasil, quando puderam escolher, os monarquistas brasileiros fizeram em número reduzido o que deveria ter sido feito pela maioria: quase 7 milhões de bravos brasileiros votaram na monarquia. Os dados do plebiscito realizado em 1993 são reveladores: 16,5 milhões escolheram o parlamentarismo em vez do presidencialismo, cerca de 10 milhões de pessoas anularam o voto, 3,4 milhões votaram em branco e a abstenção total foi de 25,76%.

Ou seja, se em Portugal havia uma massa de portugueses “dubitavelmente monárquicos”, no Brasil tivemos uma massa de brasileiros “potencialmente monárquicos” que não foi tocada pela modesta e corajosa campanha pela volta da monarquia constitucional parlamentarista. Este que era o nosso sistema e regime de governo e foi derrubado por um infame golpe militar em 15 de novembro de 1889. Sim, aquele que aprendemos na escola ter sido uma proclamação. Não foi; foi golpe. Um golpe que inaugurou o golpismo em série que caracteriza a república presidencialista brasileira.

Os republicanos brasileiros do século 19, alguns dos quais carinhosamente apelidados de “jacobinos” – os revolucionários que tocaram o terror na França no século 18 –, derrubaram a monarquia e iniciaram um processo de revolução cultural que passava por destruir e sepultar todo o capital de experiência histórica, social e política do nosso Império. Não pretendiam os revolucionários republicanos reformar o que deveria ser reformado, mas refundar a história do país segundo novas bases e desvinculada do passado.

O resultado é conhecido: a monarquia foi ridicularizada, a história foi reescrita (primeiro pelos republicanos, depois pelos marxistas), os grandes nomes do passado foram enterrados e deliberadamente rechaçados e o que aprendemos hoje em dia sobre tão fascinante e grandioso período histórico é o casamento perfeito da ignorância com a caricatura.

O quadro, felizmente, começa a mudar aos poucos. O interesse sobre a monarquia é crescente, assim como a quantidade de brasileiros dispostos a cavar a história em busca do tesouro perdido. E a se questionar acerca das vantagens sobre a república presidencialista a partir do conhecimento das posições e das soluções da monarquia parlamentar sobre as mais diversas questões sociais, políticas e econômicas.

O mercado editorial também começa a despertar para o tema e tem aumentado o número de eventos especializados, como o Encontro Monárquico Conservador no qual fui palestrante e que foi realizado na capital do Ceará dias atrás pelo grupo São Thomas More, em parceria com o Círculo Monárquico de Fortaleza.

Num momento em que o parlamentarismo começa a ser debatido e a ganhar força política, nada mais justo do que considerar, como bem destacou Miguel Esteves Cardoso, a “questão bastante mais importante: a monarquia”.

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