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Rio de Janeiro – Até agora não me dei ao respeito de saber o motivo que obrigou o rei da Espanha a mandar Hugo Chávez calar a boca numa reunião de cúpula, dessas que a política internacional promove sistematicamente. Sei apenas, e desde pequeno, que palavra de rei não volta atrás, embora sejam muitas as exceções ao longo da história.

Fico até sem jeito de dar razão a um rei – que, em princípio, não deve ter razão em nada –, mas, desta vez, como em outras, acho que Hugo Chávez fez aquilo que os entendidos condenam: extrapolou.

Ele justificou sua intervenção alegando que Juan Carlos fez parte da conspiração que o depôs, anos atrás. Mas não era hora e local para cobrar o apoio que não teve.

Lembro um incidente ocorrido aqui no Rio, por ocasião da Eco-92. Mais de cem chefes de Estado reunidos numa cerimônia protocolar no Teatro Municipal. O Daniel Ortega, da Nicarágua, abordou George Bush (pai) num corredor e puxou um assunto fora da agenda. Bush se esquivou. Ortega insistiu, segurou o presidente dos Estados Unidos pelo braço. Bush reagiu, empurrando o presidente da Nicarágua. Um segurança o afastou e tudo deu em nada. Os dois países viviam uma crise prolongada.

Fosse qual fosse o pretexto que levou Chávez a interromper a fala de Aznar, que foi o motivo para o "cala a boca", a norma civilizada em reuniões de cúpula não prevê o bate-boca. Cada qual tem um tempo para dizer o que pretende. Na crise dos mísseis de Cuba, em 1962, o representante da então União Soviética negava a evidência, garantia que não havia armamento nuclear na ilha, falou o que quis durante as reuniões, ninguém o interrompeu – somente os fatos fizeram com que ele calasse a boca.

Nunca perdoarei a Chávez a oportunidade de se dar razão a um rei.

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