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Sem desdenhá-lo, confesso que nunca dei muita bola para Michael Jackson enquanto vivo, nem estou dando depois que morreu. Mesmo assim, esta é a segunda crônica que escrevo sobre ele, sinal que de alguma forma ele – como pessoa e não como artista – me impressionou.

Pela primeira vez, vi no último domingo uma entrevista do cantor com um jornalista, do qual não guardei nome e figura, que foi uma aula de como se deve abordar polemicamente um personagem polêmico. Perguntou tudo o que devia perguntar, mas de forma serena, entrou feio e forte em assuntos delicados, como a propalada pedofilia do artista. Não o irritou nem o provocou.

Apenas uma vez intrometeu-se pessoalmente na conversa. Michael confirmou que levava amiguinhos de seus filhos para dormir com ele, na mesma cama. O entrevistador entrou na história com um comentário espontâneo, mas letal: "Eu não gostaria que meu filho fosse para a sua cama".

Os manuais de jornalismo condenam os comentários pessoais durante as entrevistas e reportagens de caráter geral, privilegiando a objetividade e a isenção. Mesmo assim, Michael saiu-se bem, dizendo que o entrevistador dava à palavra "cama" uma conotação de sexo – o que na realidade é comum, ir para cama com alguém equivale potencialmente a um ato sexual.

Nada disso – disse o artista. "Deito com as crianças, ouvimos música, leio histórias para elas, comemos biscoitos." O jornalista passou para outro assunto, não mais se introduziu na entrevista, deixando o entrevistado falar o que quis, respeitando o que ele dizia.

Conheci um repórter que entrevistava um cara perguntando se ele era corno, o cara dizia "eu não", mas ele insistia: "Não adianta negar, eu sei que o senhor é corno!".

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