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Dentre todas as criaturas, a mais bela é, sem dúvida, uma linda mulher. Seres privilegiados que são, nem percebem como estão acima de nós, homens feios, barbudos, de gogó saliente.

É uma das provas de que Deus não poderia jamais ser acusado de igualitarismo. Não importa onde: do mais horrendo campo de concentração a mais alta torre de escritórios, eis que passa à frente de todos aquele ser privilegiado, a linda mulher. As portas se abrem diante dela, o pneu furado é magicamente trocado por um ilustre desconhecido que teve o prazer e o privilégio de passar no lugar certo na hora certa. Mas ele será logo esquecido; o sorriso que ela lhe deu, que para ele valeu um reino, um continente, um mundo, será em breve esquecido por ela. Um, dentre tantos servos que lhe trazem as Parcas. Um, dentre tantos que sonham com aquele sorriso, aquele olhar, aquela mãozinha delicada que – alvíssaras! – repousa por meio segundo num ombro cansado.

E assim elas, as lindas mulheres, vão passando por este mundo sem que sequer saibam ou percebam o devastador efeito que têm sobre nós. Sóbrios e castos – desde o primeiro beijo que dei em minha linda mulher, jamais beijei outra! –, mas mesmo assim enfeitiçados, fazemos-lhes favores. Ajudamos. Ajoelhamo-nos a seus pés, sem que sequer percebamos o que estamos fazendo, movidos por aquele instinto arraigado no mais profundo da psique masculina: é uma linda mulher, e tudo ela merece.

E não adiantam leis, decretos, portarias ou porcarias similares: a linda mulher tudo merece. Os mais baixos dentre os homens – entre os quais infelizmente me incluo – fingem ver naquele sorriso uma promessa, ainda que de um sorriso futuro, ou um beijo no pelame que esconde as bochechas que, por sua vez, escondem as faces rubras do homem envergonhado pela posição de servidão a que a beleza daquela mulher o submete.

Promessa falsa, pois ela mesma não percebe o que estaria prometendo, e, sem que haja compromisso de quem promete, não há promessa veraz. Não há novos sorrisos a esperar no futuro. Não há o suave toque de lábios, que desta terra não parecem emanar, no rosto cansado daquele que troca o pneu ou a carrapeta. Não. Há apenas o privilégio, tão aleatório quanto incompreensível, de que goza aquela criatura, em mais nada melhor ou mais merecedora que outras, mas a quem Deus, em sua infinita e incompreensível misericórdia, decidiu dotar de privilégio tão sublime que lembra o Céu, tão augusto que ergue acima de qualquer honraria humana: a beleza de uma linda mulher.

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