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 | Timothy A. Clary/AFP
| Foto: Timothy A. Clary/AFP

Hillary Clinton é apenas uma Marta Suplicy que escolheu um demônio competente para comprar sua alma: uma servidora de poderes maiores do que ela. Não valeria uma coluna. Mas ganhou o Trump, como previsível nesta hora de ascensão do populismo.

O que para o mundo inteiro é uma figura decididamente bizarra, com a cara pintada de laranja, sempre falando aos berros, gesticulando e vociferando absurdos, é na verdade a encarnação mais perfeita dos Estados Unidos. Ele é um comerciante, e isso eles sempre foram. Não é difícil imaginar, para quem conhece história, um rico comerciante fenício com maquiagem forte, batendo masculamente no peito e dizendo que ele é quem sabe das coisas, à moda Trump, enquanto nos propõe uma troca que pode até mesmo vir-nos a ser bom negócio. Seria um seu antepassado.

Quem acredita em Trump devia manter sempre em dia o Carnê do Baú

Sendo comerciante, Trump é por isso mesmo imprevisível no governo: fará sempre e dirá sempre o que lhe parecer mais vantajoso, sem se ater a irrelevâncias como valores, ideologias, coerência, alianças tradicionais ou novas ou o que mais se quisera ter em governantes do século passado. A seu modo, isso é bom: os EUA são um país que passou de fragmento descontente de uma colônia às suas dimensões continentais atuais pela força das armas, tomando sempre o que lhe interessava e exterminando quem estivesse no caminho. Em sua decadência, todavia, o país veio a tornar-se uma violenta força destrutiva a gerar caos por toda parte onde toca, como o prova o entorno do Mediterrâneo.

Um comerciante a governar os EUA, coisa que há muito não acontece, terá de ser convencido na ponta do lápis de que realmente vale a pena invadir, matar ou destruir com mísseis o lar de alguém. A guerra com a Rússia que Hillary – como Secretária de Estado americana – vinha preparando com o carinho e cuidado dos verdadeiros endemoniados parece afastada agora, o que é ótimo para o mundo inteiro. Afinal, dizem que a loucura tem três graus: o dos que convivem bem em sociedade, e de acordo com a classe social são ditos maluquetes ou excêntricos; o dos que precisam ser internados, por representarem perigo para eles mesmos e para os demais; e, finalmente, o dos que invadem a Rússia. Esses matam milhões e perdem no fim.

A eleição de Trump, assim, para o Brasil é uma boa notícia: é bem menos mau ter como senhorio (pois é essa a posição econômica dos EUA em relação a nós) um picareta ganancioso, que sempre tenta se dar bem às nossas custas, que um psicopata assassino que passa os dias afiando facas e procurando alvos em que atirá-las. Só é absurdo achar que de alguma forma Trump seja bom, ou mesmo defensor de valores tradicionais. Ele diz e faz o que lhe parecer vantajoso, e só. Quem acredita nele devia manter sempre em dia o Carnê do Baú.

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