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No Brasil de hoje, é apenas no nível administrativo e legislativo do município que existe alguma representação popular verdadeira. Felizmente, foi devolvido a esta instância legislativa o direito de definir se é permitida ou não a abertura do comércio aos domingos e feriados, e um movimento lento, porém firme, pelo fechamento do comércio no dia de descanso das famílias tem ganhado corpo. Em cada vez mais cidades, o direito dos comerciários de descansar junto aos familiares tem sido garantido por lei.

O descanso semanal é um direito natural. Mais ainda, ele não é feito apenas para que a pessoa recupere as forças e trabalhe mais. Não; isso seria uma forma de escravizar mais ainda o trabalhador. Ao contrário, o trabalho serve para dar ao trabalhador e à sua família meios de subsistir e estar juntos. O trabalho existe em função do descanso com a família, não o contrário. Do mesmo modo, a sociedade é composta da união das famílias, não da prosperidade material individual. De nada adiantaria ter uma sociedade riquíssima materialmente, se o preço a pagar fosse a dissolução das famílias.

Diziam os antigos que “trabalho de domingo não enriquece ninguém”.

Nos primórdios do capitalismo ainda selvagem, cada pessoa da família ia para uma fábrica e lá ficava, sete dias por semana, doze ou mais horas por dia. Um dos primeiros direitos trabalhistas conquistados foi a chamada “semana inglesa”, que possibilitou que pais, mães e filhos tivessem um dia na semana em que pudessem estar juntos como família.

Digo ainda: os dias de descanso – como o domingo e os feriados – são os dias efetivamente importantes. Os dias “úteis” têm utilidade, uso, serventia; já os dias de descanso têm vida. É neles e para eles que as pessoas – e os comerciários são pessoas – vivem. Na nossa sociedade, paradoxalmente, apesar de toda a tecnologia, trabalha-se muito mais que o que um camponês ou artesão medieval, no seu pior pesadelo, imaginaria ter que trabalhar.

Diziam os antigos, sabiamente, que “trabalho de domingo não enriquece ninguém”. Já os gananciosos, que não dão ouvidos a esta sabedoria, preferem fazer uma conta diferente, que acaba sendo semelhante à dos que defendem o décimo-terceiro salário, que em geral são outras pessoas: fechando o comércio aos domingos, dizem eles, perder-se-ia um sétimo das compras. Ora, se alguém compra no domingo, compraria na segunda-feira.

O comércio não é nem deve ser mais importante que a união familiar. Há algo de profundamente doente em uma sociedade que considera mais importante vender aos domingos que estar junto à família. Do mesmo modo, é um triste sintoma de decadência social que haja homens que considerem ir a um shopping center uma forma de lazer.

Não vivemos para comerciar; comerciamos para viver. E vivemos em família.

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