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O último domingo do ano litúrgico é a festa de Cristo, Rei do Universo. Cristo reina. Reinar ou governar não significa mandar arbitrariamente, mas exercer a responsabilidade da decisão última num projeto da sociedade. Interrogado por Pôncio Pilatos, Jesus diz que o seu reinado não é deste mundo. Ele não é como os reis locais, no Oriente, que eram nomeados pelo imperador de Roma; nem como o imperador, cujo poder dependia dos seus generais, os quais por sua vez dependiam do poder de quem? De uma estrutura que se chama "este mundo". Como hoje. Os governantes deste mundo, estabelecidos por este mundo, dependem de toda uma constelação de poderes, influências e trâmites escusos. Devem pactuar, conchavar, corromper. E, no fim, caem de podres. Pensam que são donos do mundo enquanto, na realidade, o mundo é dono deles. O que são os reinos deste mundo aparece bem na primeira leitura deste domingo: quatro feras que tomam conta do mundo e se digladiam entre si. Mas então aparece uma figura com rosto humano, um "como filho do homem", que desce do céu, de junto de Deus, e que representa o reinado de Deus, dominando as quatro feras, os reinos deste mundo.

Jesus na sua pregação se auto-intitula "filho do homem" no sentido de ser aquele que traz esse reinado de Deus ao mundo. O reinar de Jesus não pertence a este mundo, nem lhe é concedido por este mundo. É reinado de Deus, Deus é seu dono. Mas, embora não sendo deste mundo, este reino não está fora do mundo. Está bem dentro do mundo, mas não depende deste por uma relação de pertença, nem procura impor-se ao mundo por aqueles laços que o prenderiam: força bruta, astúcia, diplomacia, mentira. Jesus ganha o mundo para Deus pela palavra da verdade. "Para isto eu nasci e vim ao mundo: para dar testemunho da verdade" (Jo 18,37). Jesus é a palavra da verdade em pessoa. Nele a verdade é levada à fala. E que verdade? A verdade lógica, científica? Não. Na Bíblia, a verdade significa firmeza, confiabilidade, fidelidade. Jesus é a palavra "cheia de graça e verdade" (Jo1,14), a palavra em que o amor leal e fiel a Deus vem à tona e se dirige a nós: amor e fidelidade em palavras e atos.

É Deus se manifestando. Essa "verdade", Jesus a revela dando sua vida até o fim. Esse é o sentido desta declaração, feita três horas antes de sua morte, ao ser interrogado por Pôncio Pilatos, que não entende. Jesus é o Reino de Deus em pessoa. Não reino de opressão, mas reino de amor fiel, reino de rosto humano, o amor humano de Deus por nós, manifestado no dom da vida de Jesus, que reina desde a cruz. A opressão exercida pelos reinos deste mundo, Jesus a venceu definitivamente pela veracidade do amor fiel de Deus. Ora, quem faz existir o amor fiel de Deus no mundo de hoje somos nós. Por isso Jesus nos convida: "Quem é da verdade escuta a minha voz".

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