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A Bíblia é uma história de amor: a história da lealdade de Deus para com o povo que Ele escolheu para testemunhar o seu amor. Para nós, cristãos, a Bíblia não é um livro de ciências naturais ou de história erudita, mas o livro da comunidade de Jesus, ou seja, da comunidade de Israel (o Primeiro ou Antigo Testamento), da qual nasceu Jesus; da comunidade que surgiu a partir de Jesus (o Novo Testamento, chave para a leitura cristã da Bíblia inteira); de nossa comunidade hoje, que pretende ser fiel ao que Jesus viveu.

A leitura da Bíblia tem seu lugar certo na comunidade eclesial. Importa compreender a Bíblia no mesmo espírito em que foi escrita. A interpretação tem como referência a comunidade de fé, que, na palavra e na vida, dá continuidade à obra de Jesus.

A Bíblia deve ser lida na comunidade orante e celebrante, e que mantém viva a herança de Jesus na prática do amor fraterno e na experiência de Deus como Pai – mensagem que ressoa na celebração, para ser posta em prática na vida. Por isso é preciso que a leitura da Bíblia seja participada por toda a comunidade eclesial: pelos mais humildes, que nos lembram a primazia da caridade fraterna; e pelos que tiveram formação especial para que ajudem os seus irmãos e irmãs.

O fulcro de tal leitura é a celebração litúrgica, ampliada na catequese e na reflexão bíblica comunitária. Tal leitura não é literalista, procurando entender tudo "ao pé da letra", o que é impossível. Tampouco se contenta em abrir a Bíblia aleatoriamente para nela encontrar alguma mensagem de Deus, nem usá-la unilateralmente para defender alguma opinião particular, sem perceber o sentido do conjunto e o ponto central dos textos bíblicos.

A leitura eclesial aqui proposta parte da escuta da palavra na comunidade e lança mão de toda tradição de conhecimento bíblico que herdamos do passado e que continua a ser aprimorado hoje. Nós cristãos lemos a Bíblia, não por curiosidade, mas para expor nossa vida à luz de Cristo.

A Bíblia nos permite conhecer melhor o pano de fundo sobre o qual se destaca Jesus de Nazaré (o Antigo Testamento) e o efeito que ele produziu naqueles que o conheceram e seguiram (o Novo Testamento). Muitas vezes a Bíblia é criticada por não concordar com a biologia, com a arqueologia, com as ciências em geral ou com opiniões corriqueiras nem sempre muito científicas.

Mas, apesar de conter coisas interessantes e até "cientificamente comprovadas", sua intenção não é ensinar aquelas ciências que outras instâncias têm a incumbência de pesquisar e ensinar. Em vez de denegrir a Bíblia em nome de um conceito estreito e superado da ciência, convém admirar o carinho com que ela foi copiada de mão em mão, milhares de vezes, sem alterações significativas, quando só existiam papel e pena. E abri-la com o mesmo carinho com qual nossos antepassados a conservaram.

A Bíblia ensina verdade útil para nossa salvação, e isso, não tanto pelas palavras que estão aí no papel, mas pelo caminho de vida que ela aponta: caminho de retidão e de dom total, caminho, afinal de Jesus de Nazaré.

Dom Moacyr José Vitti CSS é arcebispo metropolitano.

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