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Há gente que gosta de degustar vinhos.

– Hum.... Sabe a escrivaninhas antigas, unhas de aldeões com um toque de pelo de raposa (usar o verbo saber no sentido de "ter gosto de" é parte importante do show).

Inspirados por eles, todos querem ser connaisseur de algo: culinária, queijo, café, azeite. Há connaisser de sal.

Esta coluna é o manifesto inaugural do movimento internacional dos apreciadores de ar, ainda aguardando uma sigla grandiosa.

Passei este janeiro espremido entre a mata atlântica e o mar, consumindo grandes quantidades de ar em minhas corridas diárias. Ar de primeira, limpo e com muito oxigênio das baixas altitudes. Cresceram muito a velocidade e a extensão da minha corrida. Nos fins de semana passei até a notar a chegada dos carros dos veranistas, quando o ar passava então a saber a oficinas mecânicas antigas com mancha de óleo no chão e um quê de folhinha de mulher pelada na parede.

De volta para casa, a 500 m de altura, senti a falta de oxigênio somada à poluição. Você não verá poluição atmosférica ao pousar em uma cidade rural como Londrina. Corra à tarde, junto com o trânsito para sentir o ar que sabe a canos de escapamento de tratores antigos.

Em um parque aqui há uma pista de corrida pelo lado de fora, colada com uma avenida de tráfego intenso. Mais para dentro, uma pista de terra com água de um lado e árvores do outro. A pista poluída é cheia de gente, a de dentro, vazia (também faz parte do show diferenciar-se do público em geral, de paladar deseducado).

Se quer ar mais limpo, esteja próximo da água. Qualquer poeirinha que passe perto da água é retida. A poeira mata seu paladar; você só começará a perceber outras nuances quando ela for pouca. Correndo você nota cheiros de plantas crescendo, de terra, nota até a carne assando no bar, ainda que a pista poluída esteja até mais próxima (citaremos o nome do bar quando ele passar a patrocinar esta coluna).

Com uma velocidade maior, de bicicleta, a coisa é mais misturada. Carros, caminhões e vento se misturam em um ar com tudo junto ao mesmo tempo. Em um domingo sem muito trânsito é possível respirar um ar médio, mas andar de bicicleta em dia de semana é para mártires. O ciclista urbano dá sua contribuição, mas respira o pior ar possível. Minto.

Querendo, há ares piores. Fume. Coloque sua boca direto no escapamento da combustão. É o melhor caminho para quem pretende nunca poder saborear ar, vinho comida ou nem mesmo sal.

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