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Ninguém me leva a sério quando falo em abrir mão de adquirir bens materiais. Rico ou pobre, temos sempre os maiores carros, casa e disco rígido que nossas posses permitam. Mais do que todos, os adolescentes acham que o "tiozinho tá de sacanagem" quando falo nisso.

Compreensível. Adoles­centes, talvez por constituição metabólica, agem como se não houvesse amanhã. Deveriam ser os mais preocupados com o futuro, já que o futuro para eles é bem grande. Para complicar mais, ao invés de conviverem com modelos inspiradores de adultos, são os adultos que seguem os adolescentes em seu imediatismo, modo de vida e até na estética esquelética. Homens e mulheres querem ser adolescentes para sempre.

Por esses motivos, não vejo muita receptividade quando falo na convergência de valores espirituais, ambientais e financeiros que sugerem a redução da quantidade, tamanho e potência dos objetos que nos cercam, para com isso ampliar nossa própria capacidade física e intelectual.

Para minha surpresa, descobri um aliado naquela que é talvez a mais radical das frentes inimigas: a moda. Em entrevista para a Folha de S. Paulo, o diretor de criação da Lacoste falou sobre a busca de qualidade e autenticidade, sobre seu desinteresse na ideia de moda como trocar de guarda-roupa a cada ano e sobre comprar menos e melhor. Só faltaria eventualmente dizer que um jacarezinho costurado em sua camiseta não o deixará nem mais alto, nem mais bonito nem mais rico (o contrário talvez...), mas isto talvez já fosse desprendimento demais.

A ideia de ter menos não é nova, muito menos uma moda estimulada pela última crise financeira mundial. Thoreau, Emerson, Sêneca e tantos filósofos gregos já falaram nisto. Se você é daqueles que acha que o motivo deles era inveja, então se mate de trabalhar para trocar de carro todo ano. Você merece. Vá adiante e troque a única vida que você tem por um monte de metal, plástico e vidro. Quem não merece são os bilhões de pessoas com quem você divide o dano ambiental desta orgia.

Falamos muito nos três Rs: redução, reutilização e reciclagem. E praticamos mais o último e menos vantajoso deles. Não se engane achando que fez algum bem para você e para a humanidade ao separar para reciclagem o papelão da embalagem de seu celular de última geração com capacidade impressionantes, mas verdadeiramente desimportantes. Você só fez a coisa certa se pensou, com muito cuidado, sobre a utilidade de cada um dos bens que poderia comprar e terminou abrindo mão da maior parte deles. Isto sim deixará você mais inteligente, mais rico e senão mais alto, pelo menos mais leve.

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