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Em outubro passado esta coluna publicou um artigo comparando o problema ambiental causado por 7 bilhões de pessoas com aquele causado pelos 7% mais ricos do planeta. A conclusão foi que estes 500 milhões de pessoas emitem tanto carbono quanto os outros 93%.

Nesta semana o periódico PNAS publicou artigo que elabora um pouco mais essa ideia. É uma síntese de sete experimentos relacionando ética com classe social em variadas situações como trânsito, trabalho remoto ou troco errado na lanchonete. A conclusão geral, que poderia ser também um título mais apelativo do trabalho, é que ricos são gananciosos. Nessas variadas condições os mais ricos tenderam a mais vezes ficar com o troco errado ou de outras formas aproveitar-se de uma situação.

Dependendo de sua inclinação política e também de sua classe social, você pode ou achar este trabalho uma maravilha, uma decorrência dos 99% que ocuparam cidades de todo o mundo, ou pode querer discutir minúcias estatísticas dos testes – de fato, um dos experimentos tem somente cinco repetições.

Esse trabalho tem ligações importantes com o ambiente. A soma de pequenas (e também algumas grandes) vantagens individuais degradou nosso ambiente ao nível atual. Muitos de nós cometem delitos ambientais cotidianos, como não separar o lixo ou jogar tocos de cigarro pela janela do carro. É importante conhecer o perfil dessas pessoas para conseguirmos reduzir isso. Tais pessoas são motivadas por um senso de "tenho assuntos mais importantes para pensar", "uma pessoa não faz diferença", "os garis precisam de trabalho" ou alguma outra? Saber quem são e o que pensam os delinquentes ambientais irá ajudar a resolver o problema quando realmente quisermos fazê-lo.

Falando em publicações e em ricos x pobres, meus colegas pesquisadores afinal resolveram rebelar-se contra grandes editoras que por décadas se serviram de nós para redigir artigos, editá-los e revisá-los sem remuneração, para na outra ponta cobrar taxas abusivas pelo acesso a esses mesmos artigos. Já estive na situação, quando a Capes ainda não gastava milhões para nos dar acesso a essas revistas, de revisar artigos e não ter acesso à versão final. A situação é ainda pior se lembrarmos que quase toda pesquisa é feita com dinheiro do governo, tanto no Brasil quanto nos países sede dessas editoras. Resumindo, as pessoas pagam pela pesquisa, mas não têm acesso aos resultados.

Uma das soluções você pode conferir neste mesmo periódico PNAS desse artigo. Como é gerido sem fins lucrativos, ele cobra tarifas muito mais baixas. Seu colega PLOS, gerido por uma ONG vai mais longe e tem acesso totalmente aberto. Ambos têm grande reputação no meio ambiental e científico em geral.

No caso das grandes editoras, não é necessário nem experimento nem discussão para perceber que são ricas e antiéticas. Seu modelo de negócio está em flagrante contradição com a missão colocada por elas mesmas e seu lucro é obtido às custas de trabalho obtido sob coação de professores e pesquisadores.

De toda forma, pense direito da próxima vez que você tiver a oportunidade de ficar com um troco errado ou jogar um papelzinho na rua. Esse artigo de Paul Piff pode ter dado a ideia para algum brasileiro repetir os experimentos dele por aqui.

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