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28 ou 29? 30 ou 31? O método de contar os meses nos nós e entre-nós dos dedos resolve a segunda dúvida, mas a primeira, só com o calendário. E assim, meio sem entender como o tempo é marcado, vamos contando os dias, passando os meses. Como as pessoas faziam quando não havia calendário, como marcavam compromissos ou faziam referência a eventos pretéritos? Sem acordo sobre o nome dos dias da semana, o número de dias no mês, a quantidade de dias no ano, o jeito era viver hoje, com o máximo de projeção para ontem e amanhã. Não dava para comemorar aniversário, pois não se sabia como marcar o dia do nascimento nem fazer prestações. Qual das duas vidas é mais besta, a que vive se regulando pela contagem do tempo, até dos minutos, ou aquela vivida sem noção temporal?

Olho o relógio no canto inferior direito da tela e percebo que está na hora de terminar o texto porque há prazo para entregá-lo. Premido pela escassez de tempo para todas as atividades que estão agendadas para hoje, amanhã, depois, algumas marcadas há meses, me esforço para pensar sobre o tema do tempo e temo o tempo. Lembro-me do meu cunhado parodiando a belíssima Tempo Rei do Gilberto Gil, cantarolando "te empurrei, ó te empurrei". Fragmento lúdico que desconcentra, desorganiza o pensamento. Tempo, senhor da razão; tempo cura todos os males; melhor dar um tempo; dê tempo ao tempo. Todo mundo já usou essas expressões de filosofia de para-choque de caminhão, sem atinar detidamente sobre a significação do tempo e dos modos de aferi-lo.

Os sonhos mais paradisíacos eliminam o tempo: ilhas com areia alva, coqueiros curvos tocando a água, ondas suaves, casal jovem, saudável, risonho. Durou duas noites e três dias, com duas noites de viagem aérea sofrida nos aeroportos e turbulências, mas as fotos e prestações do pacote de viagem confirmam que foi realidade. Pode ser uma versão mais modesta, com a ideia de ficar em casa, dolce far niente, perder a noção do tempo no feriadão, sem saber se é segunda ou terça. Porém as cinzas da quarta-feira chegam, mesmo para quem teve por momentos a sensação de que não havia tempo.

Há o tempo. Então, seja infinito enquanto dure. Isolados no paraíso caribenho ou em casa, a intensidade da ocasião é o antídoto contra o veneno do tempo. Ele demolirá toda a eternidade; melhor lembranças que esmaecem devagar. Até elas acabam, mas são o mais próximo que dispomos do "felizes para sempre".

Algarismos vão aumentando no relógio. O tempo está acabando, preciso escrever prestamente, mas talvez eu me entregue ao tempo em lassidão para que ele acabe. Porém o tempo não acaba, não tem fim. Os prazos são terminativos, imposições da convivência, dos acordos que fazemos para conviver. Com­promissos que geram expectativas e nenhum de nós sabe viver sem se compromissar. Cumprir e desejar que cumpram no tempo avençado porque não somos Fênix. As cinzas das horas são espalhadas pelo vento. Não temos o dom de delas renascer.

De qualquer modo, o ano é bissexto e isso nada altera nossa vida, apenas complica a data de aniversário de quem nasce nesse dia.

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