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Nesses tempos de eleição para quase todos os cargos políticos graúdos, fala-se da festa da democracia, dos votos, eleitores, urnas, campanhas. Coisas boas e ruins que acompanham o momento de afirmação da vontade da maioria. Os menos votados de hoje sonham com a vitória em 2018. Ansiedades, pesquisas de opinião, publicitários dão banho de mídia nos candidatos. Urnas eletrônicas emitirão milhões de sinais sonoros – dó, ré, mi, dó – que indicam a finalização de cada voto e logo os novos governos estarão formados.

A experiência da democracia feita por manifestações individuais de escolha entre os muitos candidatos que se apresentam remanesce restrita às atividades públicas, às questões de política. A maior quantidade de votos vence e pronto. Como praticar a democracia em ambientes sem possibilidade de maioria, a exemplo da vida conjugal? Varão e virago votam em direções opostas sobre algum tema. Como resolver?

A antiguidade resolvia com a exclusividade masculina. Tirania e sujeição. Lesbos e amazonas são lendas. A realidade sempre foi de desconsideração da opinião do virago. Mulheres serviam para tirar cria e zelar da casa. Mulheres de Atenas que têm medo, apenas. Medo do opróbrio da viuvez, da gravidez solteira. Palidez de secar por seus maridos. Escravidão branda, mas ainda assim odiosa, porque não só lhes exigiam obediência, também queriam afeto, como dito por Stuart Mill na obra Sujeição das Mulheres.

O Ocidente viveu modificações revolucionárias e reformistas que mudaram a relevância da mulher na vida pública e privada. O controle da concepção acelerou o processo, tornando a sexualidade feminina tão livre de consequências quanto a masculina. O casal da atualidade é composto de duas pessoas que têm igual estatura política, jurídica, econômica, moral, sexual. Permanece o problema: como resolver as diferenças de opinião se não há maioria/minoria, mando/obediência?

Existe crônica de Rubem Alves, que prefiro resgatar da minha débil lembrança a buscá-la na onisciência do Google e afins, versando sobre casamentos que se assemelham a jogos de tênis ou de frescobol. Em ambos a bola vai de um jogador a outro impelida pela raquete, mas no frescobol há esforço do lançador para que o receptor receba bem a bola e consiga devolvê-la redonda, suave. O frescobol é cooperativo; o tênis, competitivo. Num, o prazer da vitória; noutro, o do jogo que refrigera a alma.

A chave para a democracia conjugal é a reciprocidade do altruísmo: estimular os acertos, mitigar as consequências dos erros do cônjuge. A alegria da convivência perene na compensação das fragilidades mútuas e potencialização das fortalezas para alcançar a finalidade da união, qualquer que seja a forma de amor que valha a pena. Frescobol, não tênis.

O desenvolvimento da democracia conjugal faz mais compreensíveis as altas abstrações da democracia política, mesmo que ela carregue em seu âmago a competição para a solução de conflitos de opinião. A casa e a rua se comunicam no modo como as pessoas entendem as relações intersubjetivas diretas (cônjuge, família, amigos, colegas) e indiretas (munícipes, patrícios, humanos).

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