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No romance distópico 1984, George Orwell chama de “novilíngua” o vocabulário pelo qual as personagens da história se comunicam. Trata-se de um linguajar todo modulado por palavras que podem e que não podem ser ditas. Foi uma descrição profética acerca do que se tornaria a fala politicamente correta no mundo atual. As palavras, pelo seu uso e também por sua sonoridade, evocam uma série de conotações que aprofundam o significado daquilo que está sendo dito. Por exemplo, “falecer”, “morrer” e “bater as botas” podem querer dizer a mesma coisa, mas tanto são palavras com conotações distintas que todo mundo sabe que é mais respeitoso dizer que “fulano faleceu”, e que “fulano bateu as botas” é mais espirituoso. Censurar expressões é embotar a capacidade expressiva da fala – seria como determinar que, de agora em diante, os quadros só poderão ser pintados numa paleta de cores específica. O problema é agravado quando o politicamente correto, a pretexto de tornar o vocabulário “bem educado”, tira de circulação certas palavras e as substitui por outras que têm significado completamente distinto. Perguntar “qual é seu sexo?” e “qual é seu gênero?” são coisas bem diferentes. E o fato é que, conforme nos habituamos a falar as coisas de determinada forma, nossa percepção do mundo vai sendo guiada por essas palavras. Ou seja, limitar o vocabulário limita a percepção, limita a própria inteligência. Percival Puggina fala do problema civilizacional que decorre da fala politicamente correta.

Histeria da linguagem

Nos dias de hoje, ser xingado de “preconceituoso” é ofensa maior do que ser chamado de “serial killer”. Ninguém mais é “conceituoso”: toda a discordância virou motivo para acusar o outro de ter preconceito. E isso tornou criminosas certas palavras. O medo de receber o rótulo daquela palavrinha feia que começa com “pre”, e ainda acabar com um processo nas costas, fez com que alguns prevenidos evitassem certas expressões em qualquer contexto. Até no carnaval! Guilherme Fiuza comenta o caso das marchinhas “olha a cabeleira do zezé...” e “Maria sapatão...” que foram proibidas em certos blocos do carnaval carioca.

Mais proibições

Vocês acham que eu estou exagerando? Que o mundo ocidental de hoje, laicizado, é muito mais livre do que jamais fora? Pois bem: a deputada petista Erika Kokay quer proibir peças publicitárias que exponham o corpo feminino. Sob qual alegação? Elas estimulariam a violência contra a mulher. Evidentemente, porque os rapazes vêem a “Verão” na TV e saem querendo violentar mocinhas. Creio que uma proposta dessas só existiria num governo teocrático. Ora, e quem disse que ideologia não é uma espécie de “religião”? Vejamos os comentários de Thiago Kistenmacher.

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