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"Fadiga dos grandes partidos". Esse foi um dos bordões utilizados pelos analistas para explicar o sucesso nas sondagens de candidatos oriundos de pequenas agremiações políticas catapultados por uma intensa exposição nos meios de comunicação de massa.

O proclamado desgaste dos "partidões" é uma balela: o bipartidarismo tem sido o sustentáculo do processo político nos EUA e Europa Ocidental com coligações circunstanciais, sobretudo em países que adotam o parlamentarismo. Num presidencialismo como o nosso, a extremada diversificação das opções partidárias não deve ser vista como indício de uma democracia sólida, rica; ao contrário, pode ser prova de grande inconsistência e imaturidade.

A desgraça que culminou com o processo do mensalão ora em curso origina-se justamente na fragmentação partidária e na disponibilidade dos micropartidos para se transformarem em partidos de aluguel dispostos a garantir a maioria parlamentar, desde que aquinhoados com cargos e verbas. A persistência de um sistema pulverizado é, na realidade, uma intromissão do Poder Executivo no Legislativo e uma forma de perpetuação de partidos majoritários.

A formação de partidos deve atender ao dinamismo do processo democrático. O pequeno partido não é um fim em si mesmo – e, se o for, deixa a esfera política para ingressar no ramo de negócios. O sistema deve estimulá-lo a crescer, impor-se aos demais e, quando não alcançar o mínimo de representação, ser reconduzido a um grupo de acesso.

Exemplo da confusão gerada pela proliferação de candidaturas foi o cancelamento do debate televisivo entre os aspirantes à prefeitura de São Paulo porque dois deles, melhor situados nas sondagens, recusaram-se a discutir com outros que nem sequer pontua­­vam nas preferências.

Quando, em 1788, Luís XVI tentava um mínimo de governabilidade, reconvocou os Estados Gerais, onde os representantes do clero e nobreza sentavam-se à direita e o Terceiro Estado – o povo –, à esquerda. Este esquema básico foi sendo despolarizado à medida que os processos econômicos (como a Revolução Industrial) e a implementação do conceito de representatividade introduziram nuances obrigatórias. O que antes da Revolução Francesa se designava genericamente como "povo" abriu-se aos trabalhadores, e o que era nobreza reclassificou-se como alta burguesia, pequena burguesia e, mais recentemente, classe média.

O uso do hífen permitiu incríveis combinações e sincretismos como centro-direita, centro-esquerda, social-democracia, liberal-democracia, democracia-cristã, assim como o corporativismo fascista do ex-socialista Benito Mussolini e o pérfido nacional-socialismo, o nazismo, desenvolvido por Adolf Hitler.

O processo político-eleitoral brasileiro precisa ser urgentemente modernizado não apenas em função de suas disfunções orgânicas e históricas, mas principalmente em função dos novos formatos da sociedade contemporânea, na qual a comunicação massiva ocupa posição hegemônica e o populismo torna-se fenômeno universal.

O caso do mensalão – quaisquer que sejam os placares, veredictos e sentenças – não pode ser acompanhado como um Fla-Flu judicial. Em vez de dividir a sociedade, poderá somar, desde que transformado em convocação para aprimorar a república.

Alberto Dines é jornalista.

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