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Mais que um resgate histórico, uma dívida que o Brasil tem para com os afrodescendentes é o crescimento econômico. Afinal, foram 350 anos de escravidão, história maléfica da qual o Paraná e Curitiba fizeram parte, e que a capital começa a reparar com a aprovação do feriado do Dia da Consciência Negra, que será comemorado em 20 de novembro.

Curitiba, sendo uma das grandes capitais do Brasil, não tinha essa data festiva e comemorativa como feriado. A população afrobrasileira não entendia os motivos para tanto; afinal, a capital de todos os paranaenses tem 24% de afrodescendentes, segundo o IBGE. Seria Curitiba uma cidade conservadora e preconceituosa? Talvez sim, mas o preconceito em Curitiba não é só étnico; o conservadorismo também faz parte de suas raízes, e ele é uma forma de expressar preconceituosamente certas manifestações contidas em uma sociedade.

A sociedade curitibana esquece que não está na Europa, e que não vive em uma cidade europeia, mas uma cidade brasileira, com vários problemas como os de qualquer metrópole, com suas mazelas urbanas – aqui também é Brasil! Essa etiqueta de "conservadora" que se dá a Curitiba é um pouco injusta, mas por outro lado sua fama não é de hoje; o preconceito associado à sociedade curitibana vem de séculos – no começo do século 20 os poloneses sofreram perseguições raciais e foram discriminados, com a criação de apelidos pejorativos para essa etnia, como o de "polaco".

Mas, com todas as suas diferenças – e temos de respeitar as diferenças de uma sociedade baseada na diversidade cultural –, com todas essas intempéries, Curitiba é uma das melhores cidades para se viver no Brasil. É uma cidade limpa, desenvolvida, com lindos parques, turística, planejada, com lazer. E justamente por isso estamos certos de que Curitiba, uma cidade turística, se beneficiará com um feriado que trará maior desenvolvimento econômico para a indústria do lazer e do entretenimento: mais empregos, mais consumo em hotéis, restaurantes e casas noturnas, parques mais lotados, com gastos revertidos para a economia local. Não se perde nada; pelo contrário, se ganha de qualquer forma; ou estaríamos ainda na Idade da Pedra, ou cegos incapacitados de ver a realidade, ou ainda manifestando um sentimento imperialista, escravagista, discriminador e preconceituoso?

Nós oferecermos aos vereadores e à prefeitura de Curitiba todas as informações necessárias na área da história do município, literatura, índices sociais e econômicos. Foi com essas informações, aliadas à luta do movimento negro, que fizemos os vereadores se conscientizarem da importância do 20 de novembro, que vem logo depois do feriado da Proclamação da República, e mostramos o dividendo para todos os munícipes: em outros municípios em que há esse feriado, a economia local cresce de 2% a 4%.

Fomos atendidos! Vemos essa atitude como um amadurecimento da ágora municipal e de todos que fazem de Curitiba uma cidade que é referência no Brasil e no mundo! A raça é uma só: a espécie humana!

Saul Dorval da Silva, presidente do Conselho Municipal de Política Étnico-Racial de Curitiba (Comper), é presidente do Instituto Brasil-África (Ibaf).

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