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A crise e o comércio exterior
| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Historicamente, sempre que há uma catástrofe mundial, uma das consequências ao fim da crise é a reação positiva nas operações de comércio entre as nações. Essas operações são de pelo menos três naturezas: comércio de mercadorias e serviços, investimentos estrangeiros diretos e fluxo de capitais, e intercâmbio de tecnologias. No primeiro grupo, estão incluídas as viagens internacionais nos vários tipos de turismo: de negócios, lazer, religioso, científico e cultural. O mundo sairá da crise provocada pela pandemia do coronavírus com a necessidade de aumentar o comércio internacional em todas as vertentes, pois o aumento do desemprego e da pobreza derivado da crise colocará todos os países diante de uma meta prioritária: a retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), condição necessária tanto para gerar empregos quanto para reduzir o grau de pobreza.

O retorno da expansão da produção no mundo dependerá de aumento do investimento sobretudo em infraestrutura física e infraestrutura social, em maior grau nos países pobres, pois a taxa de investimento já vinha baixa em um cenário com estoque de capital físico insuficiente, envelhecido em termos de idade e atrasado tecnologicamente. Essa é a situação em vastas áreas na África, na Ásia, na Europa e na América Latina. Embora os países desenvolvidos também precisem continuar expandindo seus investimentos, nos países pobres a necessidade é maior, como base para promover o crescimento das atividades empresariais de produção de bens e serviços, em razão do tamanho da pobreza e do brutal desemprego.

Ocorre que, atualmente, a evolução da tecnologia e a rápida obsolescência de estruturas antigas impõem a necessidade não apenas de aumentar o tamanho da infraestrutura, mas também de sua modernização tecnológica. O êxito nessa tarefa, entretanto, somente é possível pelo aumento do comércio de bens de capital, basicamente máquinas, equipamentos, aparelhos e sistemas tecnológicos de produção, pois os países subdesenvolvidos são essencialmente importadores dos inventos e produtos da revolução tecnológica gerados nos países onde a revolução científica acontece. Olhando o caso brasileiro, o país tem sido capaz de formar superávit na balança comercial e manter elevado volume de reservas internacionais em moeda estrangeira, porém, o faz com a ajuda de sua capacidade de exportar produtos primários e industriais de teor tecnológico abaixo das mais sofisticadas descobertas científicas. O Brasil precisa elevar o padrão das tecnologias incorporadas em seu sistema produtivo, a fim de produzir mais, exportar mais e criar empregos, inclusive para absorver os compensar os empregos perdidos pela adoção da própria tecnologia moderna.

Eventos graves, que atingem várias nações ao mesmo tempo e têm alto impacto econômico e social, em geral aceleram as mudanças e produzem alterações nos costumes morais e nos hábitos pessoais, inclusive em relação ao comportamento do consumidor. É de se supor que, em razão da devastação material e do sofrimento imposto às pessoas, a humanidade saia da atual crise do coronavírus sob uma onda de repensamento no modo de vida, trabalho, família e futuro. Essa onda deve atingir governantes e políticos, de forma a favorecer a criação de planos multilaterais de ajuda entre as nações, com vistas a recuperar a economia, elevar o produto mundial, reduzir o desemprego e diminuir os índices de pobreza. É provável que neste momento, com a pandemia ainda fazendo suas vítimas, os organismos internacionais de financiamento – como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional – estejam estudando o cenário e preparando planos de ajuda às nações afetadas.

Um exemplo histórico é o Programa de Recuperação Europeia (1948), chamado também de Plano Marshall em homenagem ao Secretário de Estados dos Estados Unidos, George Marshall, destinado a reconstruir a economia das regiões devastadas na Segunda Guerra Mundial, e tinha como base remover barreiras comerciais, modernizar a indústria, aumentar o PIB e, também, combater eventual disseminação do comunismo. Na essência daquele plano constavam dois pilares: remover barreiras comerciais e organizar financiamento para investimento em infraestrutura. De certa forma, esses dois pilares estarão, entre outros, dentro de um eventual plano de ajuda internacional aos países prejudicados pela pandemia do coronavírus e seu estrago na economia.

O Brasil teria muito a ganhar se começasse a pensar agora que o sucesso em atrair capitais internacionais privados para investimento, ampliar o comércio exterior e obter ajuda dos organismos de financiamentos dependerá de melhorar a imagem do país no resto do mundo, atualizar a legislação de investimento estrangeiro, promover a adesão a acordos multilaterais, demonstrar estabilidade política e, principalmente, provar que o país tem um plano de recuperação econômica, redução do desemprego e diminuição da pobreza. Isso não é suficiente para salvar o Brasil do enorme estrago econômico e social feito pela crise. Mas é necessário.

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