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| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

A combinação de quatro anos de recessão e aumento da população causou estrago na situação econômica geral do país, cujo sintoma mais dramático é o empobrecimento médio da população, agravado pelo efeito colateral de jogar 14 milhões no desemprego, o equivalente a 13,5% da população economicamente ativa. Nos próximos anos, o Brasil tem o difícil desafio de recuperar a perda do produto nacional ocorrida durante a recessão e, adicionalmente, aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) acima da taxa de aumento da população em magnitude capaz de levar ao aumento da renda por habitante. Para conseguir tais objetivos, o crescimento do PIB tem de ficar por volta de 5% ao ano durante a próxima década, sem o que o país não conseguirá consertar o grave quadro social estampado na deterioração dos indicadores de alimentação, educação, saúde, saneamento, emprego, moradia e renda. É um desafio gigantesco.

O país entra 2018 com deterioração nas contas públicas revelada nos déficits fiscais acumulados em quase todos os municípios, nos estados e na União; no tamanho da dívida pública acumulada; e na baixíssima taxa de investimento estatal em infraestrutura física, sobretudo energia, transportes, portos, aeroportos, escolas, hospitais e postos de saúde. Em muitos casos, a necessidade maior não é aumentar o número de unidades, caso dos hospitais e dos portos, mas fazer reformas prediais, substituir equipamentos velhos, ampliar unidades e equipamentos novos para fazer frente à demanda da população aumentada. O gasto público está, na maioria dos casos, padecendo de graves distorções, déficits e ausência de condições para investir.

Não há país que tenha enriquecido depois de ter envelhecido, e nada indica que o Brasil será o primeiro a fazê-lo

O Brasil fecha 2017 com 208,5 milhões de habitantes, numa década em que os habitantes com 60 anos ou mais vêm aumentando expressivamente enquanto a população na faixa dos 5 aos 14 anos vem decaindo. Não há exemplo de país que enriqueceu depois de ter envelhecido, e nada indica que o Brasil será o primeiro a conseguir tal proeza. Assim, é necessário que a sociedade brasileira entenda que ou faz as reformas requeridas pela mudança na composição etária da população e consegue crescimento, ou o estado de pobreza se manterá por décadas à frente, mesmo com os vastos recursos naturais à espera de exploração eficiente.

A previsão de crescimento econômico para 2018 está em 3%, conforme vem sendo divulgado por autoridades e analistas especializados. Mesmo que ocorra esse desempenho, o crescimento sustentado nos anos seguintes depende de um conjunto de reformas, modernizações, mudança de comportamento e evolução política. A julgar pelas declarações de autoridades públicas e de políticos abrigados no parlamento, poucos parecem ter entendido as limitações que a realidade e as leis da economia impõem e das quais ninguém escapa. Um exemplo é a disseminação de uma velha (e errada) ideia de que a interrupção da onda de déficits fiscais é coisa de neoliberais insensíveis, quando na verdade é a necessidade inadiável de colocar ordem na bagunça das contas públicas.

Leia também: 2018 tem de ser o ano das reformas (editorial de 31 de dezembro de 2017)

Leia também: Por que a pobreza aumentou? (artigo de José Pio Martins, publicado em 21 de dezembro de 2017)

Recentemente, na discussão sobre privatizações de empresas estatais, não foram poucos os parlamentares que criticaram o uso das receitas com o programa para reduzir o déficit público federal e defenderam que tais receitas sejam aplicadas em programas sociais. O equívoco nessa posição é acreditar que existe opção entre aplicar na área social ou cobrir déficits, quando a realidade é que, se o país não consertar os déficits públicos, simplesmente não haverá futuro nem dinheiro para as áreas sociais. As eleições costumam ser usadas como palco para demagogia, populismo e defesa de ideias que soam agradáveis e dão votos, mas que são equivocadas e apenas empurram a população para mais atraso e mais pobreza.

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