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O PMDB nacional deu, nesta terça-feira, o sinal que parece definitivo: ao anunciar sua debandada da base de apoio ao governo, em decisão por aclamação, mostrou que praticamente não há caminho de volta que a presidente Dilma Rousseff, o PT, Lula e seus aliados possam trilhar para salvarem-se da derrocada final. Se o partido era o fiel da balança tanto na comissão do impeachment quanto no plenário da Câmara e do Senado, a saída de Dilma, que até há poucas semanas era tida como uma forte possibilidade, toma agora feições quase irreversíveis. Ao lado das discussões políticas e jurídicas sobre o impeachment, acrescenta-se outra: a velocidade com que ele deve ocorrer – se em dias, semanas ou meses.

A iniciativa do maior e mais tradicional partido do país não é exatamente uma manifestação de amor pelas grandes causas nacionais, de apreço pelo mais puro interesse público, pela disposição ou vocação que o torne confiável para construir um novo projeto de nação. Afinal, estamos falando do partido de Eduardo Cunha, de Renan Calheiros e de tantos outros investigados. No fundo, o PMDB foi movido pelo instinto fisiológico de sobrevivência – o mesmo que o fez aliar-se ao lulopetismo, ajudando-o a se sustentar nos últimos 13 anos. Não podemos nos esquecer de que o PMDB participou do estelionato eleitoral cometido por Dilma Rousseff em 2014, ao garantir para os brasileiros que a economia estava sob controle quando a crise já lançava raízes profundas.

A capacidade do PMDB de implementar seu plano para a economia não pode ser dada como certa

De todo modo, antes mesmo de sua oficialização, o desembarque do PMDB já servia de estímulo para que outras legendas, sempre bem acomodadas no convés e em camarotes ministeriais do governo Dilma, começassem a se lançar ao mar em busca de um bote salva-vidas. Anunciam que seus representantes na Câmara estão livres para votar “de acordo com suas consciências” ou também contemplam o rompimento oficial. Rareiam, desta forma, os votos que seriam necessários para impedir a formação da maioria favorável ao afastamento da presidente.

Sem o apoio dos caciques, resta ao Planalto entregar-se à abordagem individual de parlamentares que, em troca de alguma vantagem pessoal, se disponham a ajudar Dilma a se manter no cargo. Lula, que seria o ministro-chefe da Casa Civil, faz agora o triste papel (a esta altura já aparentemente inútil) de mascate informal de mercadorias que já não tem como entregar – ou, pior, sem fregueses suficientes dispostos a comprá-las.

Lula, Dilma, o PT e seus satélites aproximam-se do ocaso. Por obra, num primeiro instante, do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que vergonhosamente fez da proposta do impeachment um aparelho misturador de vozes para safar-se das próprias encrencas e evidências de corrupção em que a Operação Lava Jato o espetou. Por obra, também, da ação de instituições policiais e judiciais que revelaram, em toda a sua monstruosidade, o jeito imoral de governar do PT e seu bando. E, por fim, por obra da desorganização generalizada que o PT promoveu na condução da economia, hoje vivendo sombrios dias de recessão, com desemprego e inflação galopantes.

Se o que vem depois deste ocaso deve ser saudado como uma solução para os problemas brasileiros atuais, é uma outra questão. O PMDB, que prepara Michel Temer para suceder Dilma, já apresentou à nação um projeto de governo de contornos elogiáveis e mais consentâneos com o mundo moderno. Mas sua capacidade de implementá-lo não pode ser dada como certa, pois as diretrizes alinhadas no documento “Uma ponte para o futuro” enfrentam resistência até mesmo dentro do próprio PMDB.

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